Bioamigo, dizem que a variabilidade do juízo humano é uma das poucas coisas que não varia. Assim, apreciações críticas dos comportamentos nas inumeráveis conexões profissional da saúde-paciente de todos os dias necessitam levar em conta que o ser humano, especialmente no contexto da saúde/doença, é inconstante e mutável.
Por isso, a máxima cautela – prudência que supõe o risco, a incerteza, o desconhecido- nas várias naturezas de comunicação profissional da saúde-paciente justifica-se pela ideia de que as relações, mesmo antigas, fixam-se, cada vez mais, em areia movediça. Circunstâncias mutantes desafiam estabilidades de valências.
Porque o óbvio precisa ser repetido, pois como disse Clarice Lispector (1920-1977) nem sempre ele é fácil de se enxergar, vale reforçar que o profissional da saúde deve estar prudente no decorrer da seleção de valências no processo de tomada de decisão sobre necessidades de saúde do paciente e ser zeloso na aplicação de valências decididas.
O profissional da saúde tem uma missão condutora pelos labirintos das valências, mas que, como todo encontro, tem expansões e limitações conforme circunstâncias. Estas últimas, atualmente, têm forte representação na variabilidade do juízo humano acima mencionada e requerem as lições proporcionadas pela vivência com os momentos de ambivalência do dia a dia.
Por isso, no contexto de uma pedagogia da ambivalência, é fundamental debruçar-se sobre a semântica do verbo indicar em É direito do médico indicar o procedimento adequado ao paciente, observadas as práticas cientificamente reconhecidas e respeitada a legislação vigente (Direito II dos médicos no Código de Ética Médica 2018). A valência beneficente do direito profissional de indicar versus uma eventual valência maleficente dada pelo direito do paciente – que desaconselha expandir para imediata aplicação- de se manifestar sustenta uma proporção significativa de consultas aos Comitês de Bioética.
Estes devem se comportar não como definidores de uma exata valência, mas como intercessores sobre abrangência e profundidade das valências presentes, levando em conta uma desejável proporcionalidade que pode ser esteticamente figurada como a letra T. Assim, os excessos na abrangência (representada pelo traço horizontal) provocam um travessão e excessos da profundidade (representada pelo traço vertical) provocam um I.