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PUBLICAÇÕES DESDE 2014

1238- Identidade, independência e cooperação unidas pelos valores (Parte 4)

Entendimentos sobre a eticidade/moralidade da conexão médico-paciente contemporânea lidam com simplificações formatadas em “pílulas” no Código de Ética Médica vigente e que podem ser representadas, na parte do médico pelo termo ditames de consciência no Princípio fundamental XXI: No processo de tomada de decisões profissionais, de acordo com seus ditames de consciência e as previsões legais, o médico aceitará as escolhas de seus pacientes relativas aos procedimentos diagnósticos e terapêuticos por eles expressos, desde que adequadas ao caso e cientificamente reconhecidas, e, na parte do paciente, pela expressão direito do paciente no Art. 31: É vedado ao médico desrespeitar o direito do paciente ou de seu representante legal de decidir livremente sobre a execução de práticas diagnósticas ou terapêuticas, salvo em caso de iminente risco de morte. O par enaltece o respeito a si e ao outro em cenários de grande vulnerabilidade pela presença da dor e do sofrimento.

A força da junção de textos a que o profissional da saúde é obrigado a conviver traduz-se na conscientização que tomadas de decisão sobre o paciente no ecossistema da beira do leito têm o potencial de associar-se a divergências humanas médico-paciente carregadas de desníveis cognitivos e expressões afetivas. Em outras palavras, o reducionismo das orientações “oficiais” potencializa inseguranças – como eu devo enxergar e como será que o outro está enxergando- na aplicação do rigor tecnocientífico.

A Bioética da Beira do leito coleciona situações que configuram exagero do médico perante conjecturas de niilismo de conduta pelo paciente em função de contraposições irreconciliáveis entre o ditame da consciência do médico e o respeito ao que o paciente expõe. Salvo os casos que descambam para o coercitivo, jamais aconselhável, na maioria das vezes, trata-se de exagero de natureza didática objetivando melhor compreensão sobre a conduta aplicável a fim de a tornar conduta consentida. O assim considerável como exagero é produto de boa-fé, de autenticidade, de veracidade, inclusive moralmente necessária pois tenta fazer da verdade científica um valor, embora admitindo que verdade é do conhecimento e valor é do desejo. É atitude que se insere no paternalismo, o brando, pois distante da coerção ou da proibição. Implica no conceito que se desenvolveu ao final do século XX que o profissional da saúde tratar um paciente não inclui, necessariamente,   decidir por ele.

Bioamigo, considerando que conexões médico-paciente compreendem inter-relações humanas entre distintas características de moral como personalidade, traços distintivos de caráter, condicionantes psicológicos como temperamento e especificidades de comportamentos, ponto de referência essencial para o ajuste dos interiores é a consideração dos valores, o ver por dentro que aprofunda a percepção de justificativas e desestimula juízos moralizantes superficiais no entorno de desafios, dilemas e conflitos no ecossistema da beira do leito.

O ser humano modela valores desde a infância que se aglutinam numa bagagem pré-profissional de valores adquirida na família, na escola, nas amizades nos encontros com as artes que porta à entrada na faculdade onde tornar-se-á um profissional da saúde. A partir daí, acontecem certas remodelações adaptativas ao exercício profissional.

Valores humanos é daqueles termos que sabemos muito bem até precisarmos explicar para alguém. Uma definição refere-se a crenças intrinsicamente relacionadas à emoção que ao ser ativada gera sentimentos positivos ou negativos, ou então, um constructo que nos direciona para uma maneira de atuar, ou então, algo que transcende situações específicas e guia contextos sociais, ou então, algo que conduz a escolha apropriada de atitudes e julgamentos, ou então, um conjunto para ordenação de importância relativa para formar  prioridades. Portanto, o excesso expressa a carência de precisão na conceituação.

A Bioética da Beira do leito enfatiza que independente do entendimento de cada um sobre valores humanos, quer numa  composição mais retórica como paz, amor, respeito, honestidade, cooperação e liberdade, quer numa mais refinada, o essencial é que na conexão médico-paciente se constituam em fios condutores atrelados a motivações internas e não a acasos ou a arbitrariedades, o que sustenta a legitimidade para o respeito ao constructo emitido, por exemplo, pelos termos Sim ou Não na resposta sobre consentimento à recomendação médica pelo paciente.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Dada à polissemia do termo valor e dada à específica adjetivação pelo vocábulo humano, a Bioética da Beira do leito reforça que a aplicação da prudência e do zelo – dois  preceitos éticos capitais na atenção às necessidades da saúde- no ecossistema da beira do leito, não somente para a tecnociência, mas também para a relevância do respeito aos valores do paciente. Significa dedicação equilibrada para beneficência/não maleficência e para direito à autonomia pelo paciente, porém, com hierarquia decisória para a voz ativa do paciente em caso de contraposições. Em outras palavras, a deferência aos valores humanos dos vulneráveis por doença é imperiosa no exercício da ética e da legalidade profissional.

Assim sendo, cabe ao profissional da saúde enxergar-se agente de ciência humanizada, o que inclui identificar necessidades e potencialidades tecnocientíficas do (a) caso clínico, avaliar níveis de probabilidade de utilidade e eficácia em escolhas de métodos beneficentes e inteirar-se das motivações de pretensões do paciente. Ordem e segurança em amplos sentidos estão fortemente envolvidos.

A Bioética da Beira do leito recomenda que o desenvolvimento do diagnóstico e do planejamento terapêutico e/ou preventivo com cada passo imediatamente ajustado aos valores manifestados pelo paciente facilita a fluidez na conduta. É atitude de lubrificação das dobradiças das portas da abertura e da tolerância a contraposições – vale dizer redução não somente de acúmulo de atritos passíveis de emperrarem a tomada  de decisão final, como também de decorrentes desperdícios dos dados produzidos e impedidos de aproveitamento

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