Como ficará a diversidade pós-humana? Médicos e pacientes estabeleceriam conexões maquinais com reações automáticas? Teremos novas formas de responsabilidade profissional? Desapareceria a empatia na esteira de maior produtividade? Como evoluiriam os aspectos de gênero, etnia, idade? Ficaria uma peça de museu o Princípio fundamental I: A medicina é uma profissão a serviço da saúde do ser humano e da coletividade e será exercida sem discriminação de nenhuma natureza do atual Código de Ética Médica?
Bioamigo, John Fitzgerald Kennedy (1917-1963) não parece ter tido nenhuma ligação com a Bioética, mas pensava que o mundo precisa de pessoas que sonhem com o nunca cogitado. O transumanismo movimenta-se entre ficção e realismo e as decorrentes agitações mentais comungam com a Bioética da Beira do leito que parar de sonhar significa estar tão somente dormindo e, assim, desperdiçando a criatividade.
A Bioética interessa-se por fundamentos para exercícios de justificativas racionais para proporcionar universalidade às integrações entre o natural e o artificial no ser humano que caminham para uma proporção no sentido pós-humano. A Bioética tem compromisso com ponderações acerca dos riscos de manipulação de aceitação no contexto do modelo da janela de Overton (Joseph Paul, 1960-2003).
Bioamigo, nas relações entre a tecnociência e a sociedade, reproduz-se a ambiguidade que a natureza é sempre boa, mas é uma “amizade” que também funciona como inimiga. A Bioética contribui de modo acautelatório e como advertência para respostas contemporâneas à pergunta do pós-humano Frankenstein: Minha pessoa era hedionda e minha estatura a de um gigante. O que isto significava? Quem eu era? O que eu era? De onde vinha? Qual era o meu destino?
Torna-se útil para sustentar o valor do pensamento pela Bioética para projeções pós-humanas sobre justiça social, direitos e pluralismo moral relembrar que apreciações críticas à maneira das que sustentam a Bioética do século XX envolveram-se com fortes “reafirmações” da legitimidade de novas tecnologias. A primeira delas que estudiosos consideram que deveria ser a verdadeira certidão de nascimento da Bioética, não materializada pela falta da declaração de paternidade e registro do nome, é datada da transição do século XVIII para o século XIX pelas documentações realizadas por John Gregory (1724-1773) e por Thomas Percival (1740-1804) sobre a busca por bases éticas por clínicos, cirurgiões e especialistas em drogas para resolver suas tensões com o que era mal conhecido. Demais exemplos marcantes subsequentes incluem critérios para priorizar o uso de máquinas de hemodiálise em decorrência do excesso de demanda em relação a pouca disponibilidade e a questão da célula HeLa, a doação involuntária de Henrietta Lacks (1920-1951).