PUBLICAÇÕES DESDE 2014

1212- Trans e pós-humanismo na beira do leito. Uma leitura com o apoio da Bioética (Parte 13)

 

VI

Bioética na época Antropoceno (época geológica atual onde os seres humanos provocaram transformações com profundos efeitos para o bem e para o mal)

O que importa é a configuração interior que nos permite o equilíbrio com o imposto desde o exterior, José Ortega y Gasset (1883-1955)

 

Geólogos procuram evidências que justifiquem plenamente a concepção que a época do Holoceno da era Cenozoica já deu lugar à época do Antropoceno, haja vista o enorme impacto provocado pelo ser humano na natureza de modo global. Um exemplo é a contaminação do sal marinho com micropartículas de plástico.

O Antropoceno remete às atividades do ser humano para as perspectivas geológicas do tempo profundo (refere-se à escala de tempo dos acontecimentos geológicos que é imensamente maior do que a escala de tempo nos planos humanos), à consciência da degradação planetária que faz perceber o quanto o ser humano é parte da Terra e pode vir a deixar de ser como os dinossauros.

Após a aceleração da degradação do planeta é que o ser humano se percebeu o quanto faz parte dele. O conceito de Antropoceno facilitaria organizar as medidas de conservação da adaptabilidade humana à Terra apesar da espiral ascendente dos impactos danosos. Curiosamente, a solução de fato reversora do mal para a Terra seria a radical extinção “preventiva” do ser humano às custas de taxa zero de natalidade (extincionismo).

Na verdade, considerando que uma geração herda da anterior e tem a missão de construir melhores condições para a seguinte, o conceito do Antropoceno permite vislumbrar que a tecnociência não é garantia de salvação da humanidade frente aos danos à natureza, é importante forjar novas relações com os outras presenças como os animais, os minerais e os vegetais.

Há vários pontos de referência  pensados como iniciais do Antropoceno como a implantação da agricultura, a queda do CO2 na atmosfera pela redução da população terrestre pela exposição da América a doenças trazidas pelos conquistadores/colonizadores europeus no século XVII, a invenção da máquina a vapor, a Revolução Industrial  ou o início dos testes atômicos na década de 40 do século XX. Em relação à saúde seria o assentamento dos bandos (nômades pelas florestas) em tribos que resultou na domesticação – e convivência próxima e repetida – de animais até então selvagens. Segundo Jared Diamond (nascido em 1937) em seu livro Armas, Germes e Aço  (Editora Record, 2003), deve-se admitir a seguinte relação entre animais “trazidos para o quintal” e o desenvolvimento de doenças humanas:

   SARAMPO           GADO VACUM
   VARÍOLA              GADO  VACUM
       GRIPE                   PORCOS E PATOS
   COQUELUCHE     PORCOS E CÃES

Para vir a ser sob novas formas e significados de existência, o ser humano dispõe-se a duvidar das etiquetagens de impossibilidades seguindo o dito atribuído a Jean Cocteau (1889-1963): não sabendo que era impossível foi lá e conseguiu. Esta construção de efeito enfatiza que as possibilidades do ser humano são ilimitadas, inclusive de perseguir a realização de diferentes hóspedes do imaginário coletivo – vide o elixir da juventude. Ademais, desde cedo, ouvimos sobre “realizações de impossibilidades” (Eva e sua  clonagem por toracoplastia de Adão, a virgindade de Maria e a nonagenária maternidade de Sara – Abraão conheceu Sara e a concebeu), que exercem um papel condicionante.

A fim de mentalizar como poderia ser o mundo futuro na saúde, cai bem a sabedoria do filósofo e futurista Max More (nascido em 1964): o mundo projetado como pós-humano (modificação extrema do ser humano na pretensão de uma idealidade que faz desaparecer o que conhecemos hoje como humano) não será uma perfeição estática, mas uma sequência de perseguição ao ideal.

COMPARTILHE JÁ

Compartilhar no Facebook
Compartilhar no Twitter
Compartilhar no LinkedIn
Compartilhar no Telegram
Compartilhar no WhatsApp
Compartilhar no E-mail

COMENTÁRIOS

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

POSTS SIMILARES