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1210- Trans e pós-humanismo na beira do leito. Uma leitura com o apoio da Bioética (Parte 11)

 

V

Bioética cooperativa no aprimoramento da atenção à saúde

Seja cauteloso com livros sobre saúde, você pode morrer de um erro tipográfico (Mark Twain, 1835-1910)

 

A Bioética dos Comitês hospitalares lida com efeitos das intervenções das ciências humanas – como a medicina e a psicologia – no ecossistema da beira do leito contemporânea  e testemunha que crescem mutabilidades de comportamentos aceitos por juízos éticos.

São realidades que exigem da Bioética conexões com perspectivas de idealidade das condições de vida representadas num quinteto:

a) perfeita saúde;
b) excelência de bem-estar;
c) extensão da expectativa de vida (“imortalidade”);
d) preciso equilíbrio emocional;
  e) perfeita moralidade.

O enrosco é que a consecução do quinteto não se ajusta com a condição humana que vigora, que distorções “humanas” costumam acontecer a cada alcance de um pedacinho de idealidade. Mas como de grão em grão a galinha enche o papo, os sequentes incrementos na sobrevida com qualidade do ser humano motivam a Bioética da Beira do leito a envolver-se com a efetiva tradução da ciência em prática de benefícios aos pacientes.

Uma linha condutora refere-se à concepção de saúde alinhada ao crescente controle clínico das coexistências de doenças crônicas: saúde é capacidade de adaptação e autogestão aos desafios de ordem física (proteger-se contra danos), emocional (enfrentar situações difíceis) e social (cumprir as obrigações, portar-se com independência).  

Bioamigo, cada emissão/recepção da prática na saúde pode moldar variantes de concepção de saúde envolvendo direitos e obrigações mais voltadas para o individual ou para o universal. Observam-se conexões médico-paciente com relações variadas entre visão subjetiva e objetiva. Mesmo método terapêutico/preventivo pode ser entendido como imperativo para a beneficência pelo médico e ser apreciado como uma intrusão danosa no corpo pelo paciente, como um agente de restruturação de exercício de poder dentro de si, com alto potencial de gerar conflitos plenos de ansiedade e de culpa. A Bioética da Beira do leito dispõe-se a colaborar para que haja um equilíbrio entre objetividades e subjetividades e ponto de ênfase é que, ao final dos processos de tomada de decisão, o que eventualmente vier a ser consentido pelo paciente proporcione tanto um nível  aceitável de autoestima quanto um sentido de pertencimento à conduta.

As possibilidades de jovens e idosos ajustarem vários CIDs e boa qualidade de vida indicam o valor do caráter dinâmico do ecossistema da beira do leito em que abióticos “não naturais” – como fármacos, próteses e órteses, componentes do Antropoceno – incorporam-se à vida humana e trazem com o passar do tempo um sentido de “natural”, até mesmo de obrigação ética. O de uso contínuo é um sal in-corpo.

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