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1206- Trans e pós-humanismo na beira do leito. Uma leitura com o apoio da Bioética (Parte 7)

É útil, portanto, bioamigo, posicionar o ecossistema da beira do leito como integrante da biosfera terrestre – o “lar” onde o Homo sapiens emergiu e evoluiu -, assim perigosamente enredada em profundas incertezas sobre o bem-estar das gerações presentes e vindouras, bem como mentalizá-lo no círculo vicioso da necessidade cada vez mais do benefício da tecnologia (técnica atrelada à ciência) para reverter efeitos maléficos da tecnologia.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A segunda transformação concerne ao desenvolvimento tecnológico em si que se mostra decorrência da disparada sem limites dos desejos humanos, vale dizer, que acontece numa dinâmica longe de mimetizar caminhos trilhados no passado.

Bioamigo, startup conceitua-se como inovação e solução de necessidades que passam a competir com o existente, inclusive, habilitando-se ao adjetivo disruptivo e com potencial de expansão e de mudança de comportamentos. Pois é, bioamigo, podemos dizer que está no ar uma concepção de “startup para vida humana” que inclui inovar o ser humano por meio da tecnociência, possibilitar saltos (r)evolucionários impossíveis pela tão somente submissão aos caprichos da genética e atingir inéditas configurações de corpo e mente com composições com o não biológico, tudo supostamente determinante de mais felicidade e superações como sobre a morte, a doença e o mal-estar.

Há uma forte atração de investimento pois aplica-se um contexto de transição de sustentabilidade que ao rejeitar soluções por modelos mais tradicionais anima-se a perseguir desafios desencadeados como crises, entendendo-os como oportunidades para mudanças radicais, sistêmicas e aceleradas. Uma mentalização de prevenção do mal e reforço do bem, mas que não pode deixar de estar atento ao dito por Simone Weil (1909-1943): Necessidade ou mesmo dever são justificativas para o poder de um mal.

Um destaque nas novas relações entre a atuação conhecida como humana, a tecnologia e os fatores culturais e ambientais com perspectiva futurista – dita transantropocêntrica-  é o desenvolvimento de “pós-humanidades” que na área médica reconheceria uma contiguidade entre corpo humano e biotecnologia e que carrega promissoras implicações com outras “pós-humanidades” como a “digital” com suas realidades digitais e virtuais.

É natural que a Bioética de fato partícipe no ecossistema da beira do leito desenvolva mudanças adaptativas para se qualificar para o que der e vier, pois é imanente a sua militância envolvimentos independentemente das circunstâncias. Na área da saúde, o acompanhamento dos impactos da biotecnologia, por exemplo, traz excelentes motivações de expansão da Bioética no contexto das representações e distribuição das doenças (epidemiologia cultural), numa riqueza de enredamentos entre o biológico e o não biológico transformadores de corpo e mente do Homo sapiens.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Em suma, a Bioética que nasceu justamente com razão análoga a da criação da ideia do Antropoceno, tendo um “hiperumanismo” como denominador comum, necessita prezar seu significado de origem, ou seja, fazer parte íntima da crítica às conjecturas e às realidades do processo de evolução (trans) do humano para expectativas de pós-humano como um fenômeno, para muitos, não somente admissível como também irreversível na atual conjuntura planetária.

Considerando um sentido radical de um tecnicismo dominante, a Bioética crítica estaria envolvida com a perspectiva de uma era “Pós-Antropoceno”, ou seja, quando o ser humano atual deixaria de influenciar a Terra e que teria incríveis semelhanças à “biblioteca” dos ficcionistas do século XX. Tanto quanto possível, a Bioética precisa cuidar para preservar o foco de respeito à ética da vida (em transformação), o que se alinha ao legado por Jean Jacques Rousseau (1712-1778): Todos os homens são úteis à humanidade pelo simples fato de existirem. A Bioética, em suma, atenta à liberdade com responsabilidade.

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