III
A Bioética de olho na liberdade com responsabilidade
Liberdade significa responsabilidade. Por isso, muitos a temem (Man and Superman (1903), George Bernard Shaw (1856-1950)
Um ontem que já foi vivido como um hoje. Um hoje que já foi previsto como um amanhã. Um amanhã que expressa o sempre. Ontem, hoje e amanhã são termos que compõem a linguagem do tempo necessária para as comunicações sobre a continuidade das transformações da natureza e da vida humana. A água que forma o rio, o devir da semente de uma fruta e o adulto como amadurecimento do ser humano expressam como só persiste o que muda ao longo do tempo. Nesta concepção que hoje é o amanhã de ontem, previsibilidades e surpresas sustentam a vida humana e a época geológica.
Almejamos e tememos transformações o que liga vida e ética. A palavra Bioética associa o sentido da vida e a expressão ética como duas essências da humanidade num par tão indissociável quanto a superposição entre liberdade e responsabilidade. A Bioética contribui para a conservação de um ser humano livre e responsável fundamental para a visão de legitimidade do chamado progresso tecnocientífico. Como esta liberdade se mostra refém da natureza e da tecnologia, reforça-se o valor da “gemelar” responsabilidade.
Associações como vida e ética, liberdade e responsabilidade estabelecem-se na consciência humana (sempre necessitada do outro, num ideal de empatia) e facilitam diversificar e ampliar os horizontes da existência, enxergar várias maneiras de interpretar, corrigir miopias e astigmatismos cognitivos, evitar vista cansada… e cegueiras. Como disse Isaac Newton (1643-1727): “Se eu vi mais longe, foi por estar sobre ombros de gigantes.”. Gigantes em Bioética são os valores aplicáveis na ética da vida com liberdade/responsabilidade. Todavia, o enxergar mais longe por estar num plano mais alto, naturalmente, afasta o chão próximo e, assim, pode prejudicar a visão do que acontece “aos seus pés”. Possibilita contraposições entre o visionário e o realista.
Porque os efeitos proxêmicos (distâncias íntima, pessoal, social e pública) nutrem heterogeneidades na interpretação de valores aplicados, é meritório o respeito às divergências de foco, o que se alinha à vocação pluralista da Bioética, à postura que desaconselha parcialidades em apreciações sobre juízos de valor sobre a vida humana hoje e amanhã.
Há o foco especulativo sobre quando for amanhã e o foco prático sobre quando já está hoje, que no ecossistema da beira do leito compõem proporções caso a caso. Por exemplo, distribuições entre clínica soberana, exame de imagem, aplicação de diretriz clínica e prognóstico, entre inteligência natural e inteligência artificial..
É capital que a Bioética coopere para desenvolver um senso de reverência a filosofias da vida incidentes no ecossistema da beira do leito. Dá sustentação à imperiosa imparcialidade nos frequentes conflitos de sentidos de fé, dogma, adoração e estagnação (pensamentos religiosos baseados na fé e articulados com resignação), e de valores e significâncias das potencialidades humanas por uma estrutura racional e científica (pensamentos humanistas e suas motivações expansivas).
A militância em Bioética facilita admitir que tanto ciência quanto espiritualidade inspiram situações de êxtase, ou seja, ambas provocam o ser humano a ser levado para “fora” e para “além” de si mesmo. “Viver” as mensagens, qual acontecia no oráculo de Delfos, estimula análises e sínteses em meio a confrontos de interpretação e que produzem novas estruturações.
Há cerca de 100 anos, Alfred North Whitehand (1861-1947) expôs três motivações básicas para transformações da vida por influências bilaterais entre o ser humano e o meio ambiente: