I
Um recado inicial aos jovens profissionais da saúde
Como os paraquedas, a mente só funciona se aberta, James Dewar (1554-1642)
Vocês jovens, estudantes, profissionais recém graduados, imersos na pós-graduação para firmar competência e segurança profissionais não se esqueçam jamais do caráter social das ciências da saúde. Aplique esta noção no cérebro tal como uma tatuagem, inclusive, para conscientizar que in- corporações artificiais são possíveis e para se preparar que integrações multiformes serão cada vez mais frequentes ao longo da sua vida no decorrer deste século XXI.
Assim, como é fundamental que vocês aprendam a diagnosticar, a tratar e a prevenir doenças utilizando métodos que já existem para aplicarem como seres humanos a outros seres humanos conforme nos conhecemos, não há como ignorar que logo, logo, vocês vivenciarão um ecossistema da beira do leito altamente transformado em seus componentes bióticos e abióticos. Um andar da carruagem da sinergia ser humano-máquina recentemente acelerado por uma velocidade supersônica.
O alerta que já soa é que a memória do saber e o ganho de sabedoria que atualmente acumulam serão insuficientes para atender iminentes demandas em inéditas circunstâncias de pacientes. Prevê-se uma busca incessante da suficiência sob estímulos ainda nebulosos para atender a uma mixagem entre humano, interface cérebro-máquina e algoritmo processado por máquina numa figura profissional tornada um Dr. Ciborgue com um número de série como CRM e presumivelmente ultra, hipercapacitado para tomar decisões… corretas.
Pelo jeito, não permaneceremos os nós mesmos humanos de hoje. Necessitaremos da nossa plasticidade orgânica para reconfigurações sequentes, para descolonizações graduais, para diversificar expressões de movimentos inclusive com transformações, em função de muita sensibilidade aos acontecimentos (sem sacrifício de confortos adquiridos).
É perspectiva de mobilizações e (re)organizações que repercute na Bioética e amplia motivos para perscrutar espaços ambíguos da ciência, aqueles que não permitem clareza se o desconhecido tornou-se de fato conhecido e o incompreensível ficou evidentemente compreendido. É missão que se conjuga ao costume da Bioética de lidar com oscilações humanas entre crenças e descrenças em torno de revelações, percepções e exercícios de imaginação e que exaltam a importância dos desafios provocados tanto pelo real quanto pela ficção.