Bioamigo, não é fofoca, não é extremismo, não é reforço do politicamente correto, não é questão de hipocondria moral coletiva. Enquanto nós profissionais da saúde nos preocupamos com o presente e o futuro imediato de nossos pacientes no ecossistema da beira do leito, sempre influenciados pelo passado, especialistas em questões ambientais expandem a visão de cuidados humanos para o globo e se revelam inquietos e alertam: Estamos perdendo a habitabilidade na Terra. Que nada! Dizem muitos. Veja, só, depois de muito tempo chegou o dia das minhas férias e não vou esquentar! Quando retornar, talvez procure mais informação – improvável, tudo seguirá como antes no quesito (não) contribuição pessoal para a preservação do meio ambiente.
Pois é bioamigo, enquanto vamos vivendo, a Terra vai morrendo. Junto se esvai a capacidade da natureza para a biodiversidade, o que inclui o Homo sapiens que cheio de forças altamente carregadas de energia para desenvolver-se a si mesmo, bem como impactar o exterior, em maioria tende a relutar em acreditar nos detalhistas cientistas do clima, alguns afirmam, só porque não desejam perder suas conquistas.
Mas, como dito por Ralph Waldo Emerson (1803-1882): cada doce tem seu amargor, cada mal, seu bem. Tais tendências “naturais” correspondem a alternâncias entre aventura e certeza, entre estímulo para independência e desejo de proteção. Num contexto global, lideranças fortes exercem o poder de nos atrair para mais aventura ou mais certeza sobre nossa inter-relação com a natureza, mais independência ou mais proteção da própria natureza.
Afirma-se que nosso habitat está irreversivelmente condenado a presenciar a sexta extinção em massa (a quinta ocorreu há 66 milhões de anos causada pelo impacto de um asteroide e dizimou os dinossauros não aviários), em função das alterações climáticas, justamente quando a medicina – e as ciências da saúde em geral- estão possibilitando melhor qualidade e expectativa de vida humana apesar das doenças. Avançamos por um lado, recuamos por outro e a marcha-a-ré em excesso de velocidade se faz mais factível. Mexer vigorosamente com a natureza compromete o observado por Isaac Bashevis Singer (1904-1991): Há eternidade em tudo que a natureza cria.
A causa da incapacidade do ser humano para manter-se vivendo na Terra, mais especificamente na biosfera? O próprio ser humano. Um mestre em desafiar a natureza – até pela necessidade de convivência em densidade populacional crescente-, em usar a imensa criatividade para o chamado progresso (evolução de um estilo de vida eminentemente predador da natureza para uma vida verdadeiramente produtiva) de que resultaram danos colaterais, agressões à natureza altamente transformadoras sem contrapartidas de proteção ou reposição.
Comportamentos “inocentes” como a transformação do pastoreio (manutenção do habitat natural dos rebanhos) em criação (novos habitats) são hoje considerados com causas importantes, metano-dependentes- favorecedoras do aquecimento global. Observa-se um aumento de cerca de 1°C na temperatura na superfície da Terra em 2020 em relação ao final do século XIX. Uma decorrência da inconveniente atuação humana sobre a natureza é a concepção que estamos numa época geológica que pela excepcional influência do Homo sapiens deveria ser denominada de Antropoceno em substituição à atual denominada de Holoceno.
Bioamigo, uma coisa é mexer com a natureza furando túneis em montanhas para facilitar locomoções, outra coisa são as loucas emoções da criatividade humana que impactam na perfuração do ozônio da natureza.