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1185- Confiança na beira do leito e Bioética (Parte 1)

Antoine-Laurent de Lavoisier (1743-1794) afirmou que na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. Trata-se do princípio da conservação da massa, substâncias reagem e transformam-se somando suas quantidades, vale dizer a massa total mantém-se constante num sistema fechado de interação – Em uma reação química feita em recipiente fechado, a soma das massas dos reagentes é igual à soma das massas dos produtos.

A Bioética da Beira do leito entende que aspectos qualitativos envolvidos neste pensamento sobre convívios admitem aplicações a respeito da forma de criação/perda/transformação como a conexão médico-paciente acontece no ecossistema da beira do leito. De fato, bioamigo, desenvolve-se uma “química” entre as partes que provoca movimentações peculiares das “matérias-primas” com que cada qual contribui. Cada aspecto envolvido nas aproximações para atenção às necessidades de saúde merece uma apreciação individualizada.

Bioamigo, destaco a confiança, tão essencial na beira do leito nada fechada. Ela, por exemplo, se cria, se perde e está sujeita a interpretações. Juízos a seu respeito na conexão médico-paciente se sucedem no decorrer das gerações segundo influxos afetivos, cognitivos e disposição para a entrega ao outro. Nestes 54 anos de atuação na beira do leito pude constatar a forte valia da ligação da honesta combinação entre ser reputado confiável, sinalizado uma autoridade na situação e possuir de fato a expertise cogitada. Ao mesmo tempo, aconteceram ampliações dos pontos de referência e da liberdade de expressão para sustentar os juízos dos pacientes sobre a qualidade das conexões desta tríade interligada à confiabilidade no cumprimento de objetivos.
Ouvi de um professor na Faculdade que ter a confiança do paciente era um componente exponencial do patrimônio profissional. Mas, disse ele, a confiança baseada na competência aplicada, nem a confiança vazia proporcionada pelo charlatão qual um tambor- muito barulho, nem a confiança tão somente pelo fato de ser médico mas que se associa a uma falta de jeito para lidar com os aspectos práticos da medicina – ilusão de jaleco branco.
Bioamigo, a aquisição do direito pelo voluntário de pesquisa ao princípio da autonomia e ao consentimento a ele relacionado motivada por abusos em pesquisas clínicas e suas decorrentes desconsiderações à dignidade humana mexeu com o sentido de confiança no atendimento assistencial na beira do leito como acontecia entre nós nas primeiras décadas do século XX. Artigos do capítulo 12 do Código de Moral Médica vigente de 1929 a 1931 ilustram a assimetria então vigente que pretendia a confiança cega do paciente no médico.

Bioamigo, em face das atuais realidades de ganho da voz ativa pelo paciente que estimulou a análise crítica da situação será que podemos afirmar que a manifestação de consentimento do paciente à recomendação do médico é ato de confiança na competência profissional e que, ao mesmo tempo, o Termo de consentimento ´w documento que carrega motivações de desconfiança sobre a comunicação atual do médico e sobre intenções futuras do paciente?

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