O profissionalismo na Saúde inclui intenções permanentes – reversão do mal-estar-, clássicas – resolução de doenças- e recém-incorporadas – prevenção de doenças- e até certos modismos- apreciação sobre valor de alimentos. Cada paciente costuma conjugar individualidades de intenções universalmente supostas e peculiares. A doença do paciente é uma continuidade profissional na óptica do médico e é uma perturbação/interrupção biográfica na visão do paciente. Firmar uma indicação médica representa intenção de aplicação da medicina enquanto que o consentimento pelo paciente significa sua intenção de aceitar a intenção manifesta pelo médico.
Intenções na beira do leito porque articulam-se com diagnóstico, terapêutica e prevenção efetivam-se na medida em que contém admissibilidades e legitimidades. Evidências científicas, validações em diretrizes clínicas são exemplos no âmbito da intenção desde a tecnociência. Valores e desejos/preferências do paciente ilustram o contexto humano da influência da intenção.
Pela crescente diversidade de conjunturas clínicas e de prognóstico, nem tudo que se pretende é viável em se tratando de doenças e cenários mentalizados repetem-se tão somente como ilusões. Só recentemente, houve condições técnicas e humanas para uma discussão ampla e judiciosa sobre intenções no término da vida/cuidados paliativos, por exemplo. Significa que a intenção fundamental é a de prestar/submeter-se a cuidados continuados com etapas de acordo com as circunstâncias.
Intenções na beira do leito são comumente substituídas ou modificadas no curto, médio ou longo prazo, em função de variações de circunstâncias, bem como multiplicam-se em interdependência e, ademais, desaparecem quando resultam satisfeitas. Há a intenção da internação hospitalar, há a intenção da alta hospitalar, estes dois extremos que separam coleções de intenções motivadas pelas conjunturas.
A comunicação de intenções, idealmente a comunicação não violenta que reconhece as emoções, é essencial na qualificação da conexão médico-paciente. Alinha-se tanto em relação ao substantivo – intenção de planejamento alinhado à prudência e sensível à relação beneficência/maleficência- quanto ao adjetivo – atuação intencional, que abrange o zelo.
Bioamigo, o conjunto de intenções clínicas como eliminar sintoma, fazer diagnóstico, aplicar tratamento, não agravar comorbidade, evitar obstinação/futilidade terapêutica, formular prognóstico, orientar prevenção reúne propósitos coletivos, ou seja, presume-se que se alinhem com a mente humana em geral, que toda pessoa, uma vez paciente, desejaria do médico. Contudo, cada conexão médico-paciente é peculiar no desenvolvimento da interação de intenções. É ponto crucial na prática da beira do leito contemporânea.
A Bioética da Beira do leito enfatiza que pacientes não devem ser considerados homogêneos na receptividade às intenções tecnocientíficas validadas e padronizadas para um coletivo nosológico. Mesmo CID, muitos desdobramentos. O reforço sistemático sobre esta realidade da beira do leito é essencial nos dias atuais, pois se o direito à autonomia foi inicialmente motivado como prevenção de intenções de abusos em pesquisa, consolidou-se na assistência como a possibilidade de o paciente não intencionar se submeter a uma orientação médica perfeitamente ética/moral/legal.
Choques de intenções antes inibidas por uma visão de grande autoridade do médico agora repetem-se a reboque das aberturas para uma forte representatividade da voz ativa do paciente. O médico não pode descartar de modo injustificado o conhecimento a que se impõe por sua consciência profissional, mas, o paciente pode não consentir na aplicação, dando satisfação tão somente a sua consciência “leiga”.