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1162- Sem dúvida, temos dúvidas (Parte 1)

A minha beira do leito é a que faço dela! Não estou mais achando que posso fazer a minha beira do leito! A oscilação de ideia é típica do recém-formado durante a Residência médica, o que é muito bom por ser o período adequado para experiências evolutivas. Certezas idealizadas no noviciado viram dúvidas forjadas pelo mundo real, caso contrário, algo está errado. Modelos heterogêneos de  atitudes se apresentam sucessivamente e têm o efeito oscilatório a que uma partida de tênis obriga a quem assiste no local. As fixações requerem a força do exemplo para arrumar o interior.

A dúvida jamais abandona o médico e revela-se instrumento imprescindível para trabalhar o refinamento da identidade profissional. Dúvidas na beira do leito são inevitáveis na medida em que constituem-se vigilantes da qualidade do desempenho e qualificadas matérias-primas para a construção da segurança profissional. Não fugir das dúvidas, enfrentá-las com disposição e ferramentas adequadas, revelam e reforçam a coragem moral que todo profissional da saúde não pode dispensar frente às necessidades e às adversidades. A Bioética da Beira do leito tem todo o interesse em cooperar com jovem médico na decodificação ética/moral/legal das mensagens-dúvidas que o ecossistema da beira do leito lhe envia ininterruptamente, especialmente as advindas do paciente/familiar e dos profissionais da saúde.

Tudo bem claro, tudo certo! É admitido ideal. Pena que no ecossistema da beira do leito seja habitualmente contraposto pelos contínuos desafios à competência profissional contemporânea. Obscuridades e incertezas são inevitáveis no cotidiano dos profissionais da saúde. Nenhum deles por mais experiente que seja pode isentar-se das dúvidas em processos de tomada de decisão ao pretenderem desempenho consonante com o estado da arte e com as individualidades dos (a)casos clínicos. Simplesmente esquivar-se das dúvidas pode vir a representar forte desrespeito à prudência.

Dúvidas na beira do leito, entendidas como incertezas subjetivas, admitem as que se apresentam no decorrer das múltiplas escolhas – período pré-decisional- e as assim herdadas e as que emergem no período pós-decisional e atuantes quer antes, quer durante ou após os efeitos do decidido. Esta última categoria é tradicionalmente útil na beira do leito pois contribui sobremaneira para reciclar sobre o contraditório nas bases resolutivas e evitar repetições de lamentos da decisão.

Dúvida é daqueles termos que chamar é fácil, conversar sobre ele é difícil. Faz parte da ordem natural das coisas. Admite o Sempre alerta! dos escoteiros. O indubitável existe- sem dúvida- mas, dependendo da rigidez de apreciação sobre a circunstância, pode ser areia movediça. Como se sabe, enganos dos sentidos, contaminações por sonhos, conceitos arraigados, podem produzir falsas certezas, razão para o plantão permanente da dúvida na beira do leito. O olhar penetrante e perscrutador da dúvida é bem-vindo sempre, por mais que possa nos martirizar.

Dúvida relaciona-se a pensamentos que se tornam autorreprodutivos numa sequência que objetiva uma completação. É da autofagia da dúvida que sobressai a certeza. A memória que traz o passado é um dos temperos, que muitos chamam de autoconfiança. O consumo da dúvida deve ser o do gourmet, não o do glutão.

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