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1151- Preocupação profissional na beira do leito e Bioética (Parte 7)

Bioamigo, estudantes do primeiro ano – onde tudo parece começar-, por exemplo, marcam o início da transição. O pisar em ovos com preocupações muito individuais – quantos não se quebram!- aos poucos reúne componentes mais coletivos para a moralidade dos comportamentos em função de regras e valores propostos. Ainda calouros, eles não devem completa obediência profissional, mas já devem preparar-se para, por exemplo, o fortíssimo caput É vedado ao médico da maioria dos artigos do Código de Ética Médica vigente. Há o vedado absoluto como no sigilo profissional e há o vedado relativo como na interação entre beneficência/não maleficência e direito à autonomia. Érica é complexa!

Os iniciantes já precisam se dar conta que orientações heteronômicas precisam se metamorfosear em autonômicas- obrigo-me a elaborar o prontuário do paciente. Bioamigo, o ajuste é cheio de nuances até a aposentadoria, posso afirmar porque desde que me graduei, cinco revisões do Código de Ética foram editadas. Eu me formei tendo no  Artigo 1º do Código de Ética, vigente entre 1965 e 1984, como Norma Fundamental que a medicina é uma profissão… que tem por fim colaborar… para o aperfeiçoamento da espécie… 

A permissão/vedação mental compreende por um lado a tecnociência e por outro a pessoa do paciente. No campo da tecnociência, há a ênfase na validação dos métodos, o que traz a preocupação do profissional da saúde com a atualização permanente da literatura médica, com destaque atual para as diretrizes clínicas. Portanto, a preocupação com a beneficência.

No campo da pessoa do paciente, uma preocupação é com as adversidades cogitáveis do potencial de benefício em função de individualidades. Portanto, a preocupação com a Não maleficência.

Interligadas com este par estão as preocupações do profissional da saúde com aspectos da instituição de saúde e do sistema de saúde, onde a alocação de recursos é tema dominante.

As preocupações mobilizam, idealmente, a prudência para selecionar o que deve ser feito e o que deve ser evitado. Mas, a prudência, em razão das repetições de emoções negativas também dá conselhos de inconveniência de persistência de comportamentos. Surge, então, um alerta a respeito da integração entre preocupação do profissional da saúde e princípio da autonomia.

Será que o médico a fim de evitar emoções que decodifica como indesejáveis, não poderia incorrer num determinado niilismo prejudicial para o paciente? Ou ajustar orientações a sua exclusiva conveniência? Será que o Princípio fundamental VII do Código de Ética Médica atual   O médico exercerá sua profissão com autonomia, não sendo obrigado a prestar serviços que contrariem os ditames de sua consciência ou a quem não deseja, excetuadas as situações de ausência de outro médico, em caso de urgência ou emergência, ou quando sua recusa possa trazer danos à saúde do paciente, resolve a questão? Por exemplo, na vigência de um contrato de trabalho.

Ademais, até que ponto o paciente tem conhecimento do que não foi dito pelo profissional da saúde em função da evitação de alguma preocupação ansiogênica, e, assim, dá o consentimento após ter sido apenas mal e parcialmente esclarecido? O trabalho em equipe seria um fator ajustador, pois funciona como integrando várias “segundas opiniões” na “primeira opinião” a ser informada ao paciente?  Pois é bioamigo, mergulhar com crítica no oceano das preocupações na beira o leito traz à mente Eu vim para confundir… de José Abelardo Barbosa de Medeiros, o Chacrinha (1917-1988), que cursou a faculdade de medicina durante dois anos.

Por tudo isso- e um pouquinho a mais que o bioamigo conhece do blog- a Bioética da Beira do leito enfatiza o valor do Paternalismo -o brando, na beira do leito. Pois aí a preocupação focada no mais adequado interesse do paciente pode conviver clara e honestamente com a preocupação com a emoção indesejada e ambas ficarem esclarecidas ao paciente. Este, por sua vez, tem chance de avaliar se o eventualmente indesejado pelo profissional da saúde é um direito do mesmo ou se caberia uma interpretação de negligência profissional, e , então, optar por não aceitar ser cuidado por aquele profissional da saúde que não deseja se envolver com uma emoção negativa que prejudicaria o atendimento aos melhores interesses do paciente.

É consideração que cabe dentro do adjetivo Esclarecido para o Termo de Consentimento, ou seja, abrange a compreensão pelo paciente sobre intenções profissionais. Bioamigo, Há mais coisas entre o céu e a terra do que supõe sua filosofia  dito por Hamlet – representando a paixão- a Horácio – representando a racionalidade -, é constructo de William Shakespeare (1564-1616) sempre bem-vindo à beira do leito pelo olhar da Bioética e pela disposição de Comitês de Bioética de se empenhar em ampliar os horizontes em conflitos.

Em suma, bioamigo, a beira do leito admite preocupações de natureza cognitiva, emocional e social que requerem a atenção da Bioética no âmbito das habituais oposições entre liberdade teórica e não liberdade prática ou vice-versa. Há a conjunção com a tríade inquisitiva: Devo? (me preocupar) Posso? (controlar) Quero? (enfrentar), a respeito de expectativas positivas ou negativas, do consumo de atenção com desvios do essencial e das oscilações de conveniência de estratégias.

O seguinte decálogo sobre preocupação na beira do leito é útil na contribuição de Comitês de Bioética para a educação e o treinamento do profissional da saúde:

  1. Preocupação com o paciente é inevitável corolário da ética profissional;
  2. Preocupação com o paciente é fonte primária de ansiedade profissional;
  3. Gatilhos para preocupação podem ser externos (informações, imagens e situações) ou internos (pensamentos, imaginação);
  4. Preocupação inclui pensamentos negativos repetitivos sobre o futuro;
  5. Preocupação  inclui pensamentos positivos para prevenção e para solução;
  6. Preocupação inclui tendência a maior aceitação de incertezas;
  7. Preocupação pode desviar o foco para o futuro prejudicando a atenção para o presente;
  8. Preocupação pode motivar estratégias menos recomendáveis em face da ansiedade/angústia;
  9. Ter preocupação não é exatamente o problema, a reação que é o problema;
  10. Os sofrimentos associados às preocupações podem gerar niilismos para evitar o contato com os gatilhos.

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