A habitual conjunção de incerteza e de probabilidade na beira do leito é um dos pontos de valorização da utilidade da Bioética da Beira do leito. A reunião da heteronomia das projeções de probabilidade e da autonomia para a seleção das considerações de incertezas articulam-se com projeções de beneficência/não maleficência.
A medicina – e as ciências da saúde em geral- ao acumular recursos para lidar com a saúde do ser humano desde o pré-natal até o fim da vida, tem em eventuais comportamentos de indiferenças profissionais às incertezas sobre probabilidades uma das mais indignas atitudes na beira do leito. Correspondem à antítese do conceito que é praticando as ações éticas que nos tornamos éticos e da visão de valor no hábito e na disciplina.
O processo de recomendação da conduta na beira do leito com grande participação do provável e do incerto em face de individualidades provoca sentidos e sem-sentidos no paciente e que como dependem das palavras, é essencial apreciar como elas são emitidas e são ouvidas, como cada um se ouve falar – para não se exceder e dominar o diálogo- e como cada um se ouve ouvir – para evitar se distrair.
Bioamigo, é por meio da palavra que o profissional da saúde se posiciona diante de si mesmo, diante do paciente, diante do ecossistema da beira do leito. Só podemos pensar, sentir e atuar de modo humano na beira do leito para estabelecer uma conexão eficiente com o paciente a respeito do par incerteza e probabilidade – importante na aplicação do princípio da não maleficência- pela força da palavra.
Recomendações para a aplicação de um método encerram informações e opiniões. Elas tendem a certa cristalização e assim uma integração entre objetivo e subjetivo “padronizada” costuma ser o ponto de partida para a comunicação. Todavia, as conexões (médico-paciente) admitem variações de fornecimentos e de consumos das mesmas, admitem travessias “não padronizadas” ajustadas às circunstâncias (eletivo, emergência).
Reciclagens da comunicação são necessárias para a mais adequada atualização ao momento clínico, o pret-à-porter substituído pelo alfaiate, ou seja, cada (a)caso clínico é uma experiência com detalhes que fazem a diferença. A Bioética da Beira do leito enfatiza como a beira do leito é local de passagem e de chegada, ou seja, de recepção do que nos passa e de alocação das transformações.
O componente profissional do desenvolvimento do diálogo interessado, compassivo e sincero na beira do leito, em feedback com o paciente, é desenhado por lápis e borracha, essenciais para o percurso com acertos e desacertos nos labirintos. Percepções que se sucedem vão “criativamente” eliminando e acrescendo elementos de comunicação, motivando seleções e ajustes de rumos, indicando formas de alinhamento de objetivos, e, inclusive, inspirando arriscar mais, dispor-se a ideias e a posturas propícias além do inicialmente pretendido, até mesmo algo provocativas, sem, evidentemente, sair fora do papel ético/moral/legal.
A Bioética da Beira do leito admite níveis de criatividade, desejáveis e exigentes do profissional da saúde saber lidar perante tantas heteronomias, tantas pós-verdades, tanta vaguezas sobre as realizações de potencialidades.
É questão que o jovem profissional da saúde precisa refletir sob supervisão sobre as vantagens de considerar integração de 10 elementos componentes da atual cultura da beira do leito:
- Dissintonias entre o sentido desejado e a função possível;
- Fronteiras entre heteronomia e autonomia;
- Integração entre beneficência e heteronomia;
- Integração entre beneficência e autonomia;
- Integração entre Não maleficência e heteronomia;
- Integração entre Não maleficência e autonomia;
- Fronteiras entre prudência e autonomia;
- Limites da criatividade circunstancial;
- Paternalismo- o brando e Não consentimento provisório;
- Prós e contras da medicina defensiva.