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1138- Criatividade é desejável, mas como aplicar? (Parte 3)

A criatividade comunicativa é instrumento útil na beira do leito para viabilizar as informações que possam melhor qualificar a relação entre potencialidades beneficentes dos métodos e a seleção dos mesmos, para aproximar o conhecimento do que terá que ser ao pretendido.

A conscientização pelo paciente acerca do grau de similaridade entre o que se deseja que seja e o que virá a ser na base da experiência prognóstica envolve várias emoções que, por sua vez, demandam formas criativas de uso da linguagem.

É habitual que o paciente chegue ao médico com alguma idealização de estratégia, um primeiro cenário que não envolve maiores mudanças na rotina – algo como tomo um remédio que resolve. O médico constrói um segundo cenário com modificações efetivas, usos de métodos invasivos, riscos terapêuticos, reformulações preventivas da rotina. É movimentação que qualifica a conexão médico-paciente.

Nesta conjuntura, tudo se passa como houvesse certeza técnica sobre a inadequação da aplicação do primeiro cenário e, ao mesmo tempo, passam a dominar as projeções de incertezas sobre o segundo cenário, muito embora um predomínio humano e mais alinhado ao potencial beneficente.

O paciente precisa, então, conviver com incertezas no caminho do benefício, ou seja, ele deve ser instado a reconhecer que elas são indissociáveis da oportunidade de reverter/controlar as certezas sobre a história natural. A situação fica ainda mais dramática quando o paciente é oligossintomático e se vê na perspectiva de ter que passar por dor e por sofrimento sem garantia de alcançar a melhor das evoluções pós-conduta.

A boa notícia é que a maioria dos casos atinge a desejável evolução terapêutica/preventiva, trazendo uma apreciação final de “valeu a pena” submeter-se ao saber e à sabedoria proporcionados pela competência profissional, embora sob tensões. É consideração que serve para embasar, por exemplo, campanhas preventivas – como as mensais com cores específicas- que pretendem conscientizar a sociedade sobre a inadequação do niilismo frente a realidades mórbidas a que todos estão sujeitos. Não é fácil sair da zona de conforto tendo em mente o popular ” se procurar, acha!”.  

O médico tem a necessária calosidade mental para entender que a dor e o sofrimento do paciente fazem parte de oportunidades em prol de futura qualidade de vida e sobrevida, que vale se dispor a suas realidades.

Frente a esta “imperiosa visão profissional”, agente moral que é, como deve o profissional da saúde ético comunicar-se com o paciente numa exatidão de medida – nem titubeio, nem autoritarismo-, numa exigência de habilidades com as linguagens verbal e corporal, de empatia com a individualidade da pessoa do paciente e de convivência com um martelar de incertezas e variedades de percurso- o que nossos colegas de gerações precedentes resumiram em medicina é uma ciência de incerteza e uma arte de probabilidade.

O desenvolvimento destes calos mentais é um dos aspectos mais influentes sobre as emoções profissionais e seus diversificados impactos, inclusive o potencial de burnout.  

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