PUBLICAÇÕES DESDE 2014

1135- O quanto livre e esclarecido?

A Bioética carrega um paradoxo. Está presente na prática da beira do leito e ao mesmo tempo conscientemente ausente no profissional da saúde que faz o atendimento. A razão é que as inadequações provocam demandas ao profissional da saúde, ele próprio lida com as mesmas produzindo adequações que passam a fazer parte de sua rotina e fazem esquecer a elaboração.

Exemplo é o exercício do consentimento pelo paciente na beira do leito em respeito ao direito ao princípio da autonomia. É rotina contemporânea primordial, essencial para a eticidade do atendimento. Bioamigo, quer mais participação da Bioética? Pois é, o consentimento é aplicado pelo profissional da saúde destituído da conscientização que se trata de contribuição da Bioética.

O consentimento tornou-se um hábito. Observa-se que qualquer fato que possa ser sentido como prejudicial a ele traz fortes implicações. Há a legítima preocupação que o consentimento seja livre e esclarecido. Todavia, esta par qualificador se faz numa determinada calibragem  sujeita a distintas interpretações sobre a presença de liberdade e de esclarecimento.

A Bioética da Beira do leito entende que o exercício da liberdade materializa-se em função do esclarecimento. É sobre este que aquela acontece. Por isso, deixar o paciente sozinho com duas folhas de papel informativas – elaboradas por várias mãos, nenhuma delas o médico assistente- para serem lidas sobre o procedimento a ser realizado traz as indagações: A aposição da assinatura do paciente cumpre as premissas de fundamentação do (não)consentimento? Atende aos preceitos da Bioética? Bioamigo, você há de concordar que este Assina Aqui é uma antítese do esclarecimento, e, quando apresentado na iminência do procedimento representa uma forma de coerção.

Bioamigo, se não nos recusarmos a tão somente aceitar a parte visível do iceberg, jamais haverá o mergulho crítico atestar a calibragem da liberdade e do esclarecimento em nenhum consentimento pelo paciente. A voz ativa desfaz-se de representatividade.

A Bioética da Beira do leito chama a tenção que no mundo real da beira do leito, o efetivo exercício da liberdade pelo paciente para a tomada de decisão está sujeito a certas influências. Há a interação familiar, há a presença do amigo, há a força da dor e do sofrimento, há a auto argumentação pela experiência como paciente que exercem impactos na autonomia, põem em cheque o livre-arbítrio, provocam integrações peculiares entre desejos, preferências, objetivos e valores.

Ademais, não pode ser ignorada a influência na liberdade do paciente da conexão ao profissional da saúde que mesmo não sendo nenhuma coerção explícita exerce um influxo de tendência ao Sim articulado com a confiança, com o grau de segurança captado e até mesmo com alguma dificuldade para dispor-se a tomar do profissional para si a responsabilidade pelo eventual Não.

Quanto ao esclarecimento, há muito que discutir sobre sua abrangência e profundidade. Superficialidades, supressões, modos de dizer acontecem, ou seja, dois profissionais da saúde esclarecem de modo distinto. Qual seria o quantum satis é questão em aberto.  Reforce-se, o termo por escrito, elaborado segundo certos critérios para  satisfazer um aceitável  quantum satis  tem sido corrompido na essência pelo reducionismo na assistência ao esclarecimento, simbolizado no Assine Aqui.

Bioamigo, como será que o Paternalismo – o brando se encaixa nestas considerações sobre autenticidade do consentimento livre e esclarecido pelo paciente na beira do leito? A Bioética da Beira do leito entende que o Paternalismo – o brando não é  antítese da autonomia, pelo contrário, sua aplicação com boa-fé contribui para o melhor esclarecimento diretamente da fonte profissional pois associa-se ao diálogo e ajuda o paciente a exercer sua liberdade na medida em que permite ao profissional da saúde entender justificativas para o Não e o Talvez e assim ajudar o paciente a lidar com eventuais causas influentes.,

COMPARTILHE JÁ

Compartilhar no Facebook
Compartilhar no Twitter
Compartilhar no LinkedIn
Compartilhar no Telegram
Compartilhar no WhatsApp
Compartilhar no E-mail

COMENTÁRIOS

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

POSTS SIMILARES