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1126- Decisão Compartilhada (Parte 11)

A beira do leito contemporânea testemunha vácuos provocados por tensões exigentes do poder do diálogo sincero em busca de distensões. É necessidade que envolve múltiplas informações complexas que se movimentam segundo energizações humanas entre as emissões e as recepções no sentido de uma composição de entendimento. Fala-se, ouve-se e, ao mesmo tempo é preciso ouvir-se falar  – para não haver apenas um monólogo- e ouvir-se ouvir – para não se distrair- a fim de que o desenvolvimento do diálogo represente a inclusão bilateral alinhada a uma ética das relações humanas.

A presença de uma mentalidade profissional acurada o suficiente para enxergar a validade de compartilhamentos entre médico e paciente frente a dissemelhanças de compreensões no processo de tomada de decisão na beira do leito fortalece a concepção contemporânea que as habituais contraposições entre evidências e preferências que abalam conciliações entre Ciência e Ética são moralmente aceitáveis na área da Saúde.

Análises multidimensionais das muitas conjecturas presentes num (a)caso da beira do leito carecem de cortes de amarras a que o ser humano adquire ao longo de suas experiências pessoais e profissionais, ou seja, revisões de um “só pode ser deste modo”. Por isso, a validade da submissão profissional a imperativos de consciência acerca de habituais inquietações e oscilações marcadas pelo paciente e que deságuam numa pergunta básica: O a ser decidido é bom para quem?

A Bioética da Beira do leito enfatiza que confrontos entre médico e paciente em suas diversas gradações na beira do leito devem ser apreciados como um valor da comparticipação do profissional da saúde e do paciente nos diversos momentos de conexão deste par que pela tradição é imprescindível ponto de referência para qualquer argumentação no entorno da ciência e do humanismo.

Este valor compartilhado contribui para a fluência conectiva médico-paciente por entre os tão ansiogênicos paradoxos observados na beira do leito entre a não-liberdade teórica dada pela heteronomia de normas e códigos (Recomendação classe I, nível A, É vedado ao médico) e a liberdade prática alinhada ao direito ao princípio da autonomia (Não consentimento pelo paciente, Ditames de consciência profissional).

Se por um lado conhecemos os Princípios fundamentais II O alvo de toda a atenção do médico é a saúde do ser humano, em benefício da qual deverá agir com o máximo de zelo e o melhor de sua capacidade profissional e VCompete ao médico aprimorar continuamente seus conhecimentos e usar o melhor do progresso científico em benefício do paciente e da sociedade, sabemos, por outro, que eles, não somente, não significam salvos-condutos para imposições tecnocientíficas bem intencionadas, como também, que a sabedoria secular da beira do leito ressalta a imprescindibilidade de uma atmosfera sensível a flexibilidades para ajustes visando ao compartilhamento.

O ser humano sempre aprendeu com a natureza, a prática da transdisciplinaridade acresce matérias-primas de outros saberes aos pensamentos, a beira do leito constitui um ecossistema onde bióticos e abióticos interagem no campo da Saúde. Medicina não é somente biologia, ela se vale de muitos campos do conhecimento construídos por experimentos, por criatividades, por observações e que se materializam como avanços da tecnociência à disposição dos cuidados com as necessidades de saúde da sociedade.

A percussão diagnóstica do corpo humano nasceu da observação da diferença do som entre a parte cheia e a parte vazia de um barril de vinho, o estetoscópio nasceu da lembrança que o sólido transmite melhor o som, os raios-x e a penicilina foram descobertos por observações ao acaso. Por que não esperar alguma ilação da misteriosa física quântica?

A Bioética da Beira do leito aprecia a Coragem Criativa, o olhar atento a novos símbolos que venham a valorizar a aplicação as ciências da saúde em geral por adaptações desde outras áreas do saber, sabendo que ela requer comprometimentos apesar da consciência de que eles  possam conter equívocos. Mas, a história da medicina evidencia que convicção e dúvida é legado hipocrático transmitido de geração a geração sem perspectivas de interrupção.

A educação, o treinamento e a aplicação da Decisão Compartilhada pode se beneficiar de inspiração na física quântica a respeito de causalidade local e global e do conceito da Não Separabilidade. O benefício cogitado é a criação de um clima favorável à aceitação entre médico e paciente de ajustes na conduta pela ideia que a qualquer momento poderá haver uma intercomunicação entre ambos para atender a dúvidas e a necessidades. A noção de uma extensão do encontro presencial que de certa forma permite deixar certas arestas.

É entendimento comum que o progressivo afastamento físico de dois objetos reduz cada vez mais a interação entre os mesmos e desaparece a partir de determinada distância. Contudo, no universo quântico, a interação persiste em função de uma causalidade global.

Como dito por Hannah Arendt (1906-1975), todas as vidas, especialmente pela organização coletiva, estão sujeitas à causação, sempre há um nexo entre causa e efeito as envolvendo, o surgimento de um primeiro fato condiciona, invariavelmente,  a um segundo e assim por diante, o que traz considerações sobre livre-arbítrio, vontade e liberdade, bem como motivação interna e influência externa, dois aspectos partícipes do princípio da autonomia.

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