A Decisão Compartilhada tem ponto de referência essencial no Rigor – um comportamento da transdisciplinaridade- com a Tecnociência validada e aplicável para as circunstâncias do (a)caso da beira do leito. Este vigoroso cuidado com a honestidade intelectual inclui um Rigor clínico no sentido de um trabalho caçador-coletor de informações desde o paciente e um Rigor tecnocientífico articulado com o par experiência vivenciada e evidências científicas que sustenta um trabalho empreendedor-transformador.
Na contemporaneidade, o Rigor clínico e científico está fortemente alinhado aos textos das diretrizes clínicas elaboradas por sociedades de especialidade. Elas são representantes do estado da arte, contudo, as heterogeneidades dos (a)casos da beira do leito exigem certa flexibilidade circunstancial ás aplicações das recomendações contidas nas diretrizes clínicas. A ideia é que diretrizes clínicas devem ser consideradas bússolas (waze numa linguagem mais moderna) e não algemas (tornozeleiras eletrônicas mentais numa linguagem mais moderna), ou seja, orientação e não condução coercitiva para planejamento e conduta.
O comportamento de inspiração transdisciplinar subentende que flexibilidades incluam a Abertura para o Novo e para a possibilidade do ainda desconhecido, do inesperado e do imprevisível. É conceito alinhado com a distinção entre potencialidade de beneficência e realização do benefício presumido. De fato, acontecimentos de diversas origens não cogitados podem atuar na evolução das providências com influências mais ou menos intensas, apesar do rigor com prudência, zelo e perícia.
Ademais, há o comportamento de inspiração transdisciplinar representado pela virtude da Tolerância, que é válida para questões de opinião – portanto, para algo com forte subjetividade- e subentende a voz ativa do paciente – especialmente para um Não- no processo de tomada de decisão sobre suas necessidades de saúde. O direito do paciente ao consentimento – ou não- à recomendação médica, articulado ao princípio da autonomia, sob o ponto de vista humano está suscetível a uma resposta não científica, ou seja, a vontade do paciente acerca da recepção da tecnociência precisa ser tolerada e administrada com responsabilidade. Entra em jogo, então, uma independência entre o que se entende como verdade representando um conhecimento científico validado e que, assim, vale para todos, e o que significa valor ao representar vontade que tem suas peculiaridades individuais. Na beira do leito, a Tolerância do profissional da saúde a opiniões de contraposição do paciente consubstanciam, em verdade, um respeito ao direito de liberdade responsável de opinião ao alcance do paciente e que se opõe ao cientificismo, ao autoritarismo profissional, um exercício de polidez contra formas de imposição do conhecimento inadmissíveis na contemporaneidade do respeito a valores na beira do leito.