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1103- Métier

O ensino do idioma francês fazia parte do currículo do Colégio Pedro II, a instituição de ensino que foi essencial para a minha formação pré-profissional. Eu gostava das aulas de francês e ficou marcada a ocasião em que eu perdi por uma palavra do colega Jacob Hadid numa competição organizada pela professora Nilza Santos sobre quem relacionaria mais galicismos de uso corrente entre nós no prazo de sete minutos.

Lembrei-me disto quando, outro dia, li a palavra métier num texto brasileiro sobre profissões modernas. Ele está presente no nosso vocabulário, inclusive com a grafia consagrada metiê.

Pois é bioamigo, incorporei o termo métier numa proposição semântica de exigência de imersão qualificada na atividade. A mensagem de mim para eu mesmo que decodifico ao utilizá-la é de pleno domínio de atributos pessoais necessários para o desempenho profissional, deixar as impressões digitais no que faz.

Pensar sobre o profissional da saúde na beira do leito usando o significado por mim entendido neste galicismo ajuda a dar clareza à visão de profissionalismo segundo a Bioética da Beira do leito. Uma compreensão que não me ocorre em sinônimos como ofício e ocupação, pois eles soam mais vagos.

Trabalhar com a palavra métier no campo semântico que adotei me impõe considerar que a competência do profissional da saúde na beira do leito obriga-se a apresentar seus três componentes interligados: conhecimento, habilidade e atitude. O saber técnico não basta para caracterizar o profissionalismo – com atual tendência à hierarquia pragmática- pois carece do aspecto da singularidade humana embutido no termo métier, vale dizer, o esmero com a  atitude que dá o toque de completude.

Hipócrates (460 ac-370 ac) criou uma identidade de médico numa época de praticamente nulidade de métodos úteis e eficazes, ainda bem longe da ajuda da ciência. A Bioética da Beira do leito entende que é ponto de referência capital para o entendimento da imprescindibilidade da atitude, portar-se humano com o que dispõe de tecnociência, qualquer que seja sua dimensão no (a)caso.

É fato que a tecnociência de hoje é nula para muitas situações – os 26 séculos se assemelham-, a beneficência falha em se realizar benefício em tantas outras, sem mencionar que a aplicação de métodos resolutivos para diagnóstico e terapêutica associa-se a dor e a sofrimento que, idealmente deve se acompanhar de um equilíbrio entre uma expressão burocrática e uma expressão afetiva. O transplante do primum non nocere  para o princípio da não maleficência é ilustrativo da missão social responsável na aplicação das ciências da saúde.

A Bioética da Beira do leito enfatiza que os jovens profissionais da saúde não devem ser cooptados pelo Sistema a deixarem de lado suas justificativas de solidariedade que preencheram suas escolhas profissionais. Modelos da atuação na beira do leito como por exemplo os ligados à chamada medicina defensiva precisam ser apreciados no amplo contexto. O compromisso com o significado da missão profissional é essencial, ajuda considerar uma palavra que condensa e inspira.

O termo métier me facilita pensar numa identidade profissional no sentido de dentro para fora que, sensível a tudo que possa representar beneficência/não maleficência/prudência/responsabilidade, não exagere na neutralidade afetiva, pois a beira do leito precisa do oximoro do gelo fervente.

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