A Bioética da Beira do leito adverte que os termos bom/melhor encerram indeterminações. O emprego na beira do leito precisa se acompanhar da cautela do bom/melhor para quem?
Por isso, a relevância para tomadas de decisão do bom/melhor conhecimento do paciente, tanto do estado de seus órgãos e da expressão clínica motivadores de recomendações tecnocientíficas, quanto dos seus desejos, preferências, objetivos e valores. O seria mau/pior tem muitas possibilidades de prevalecer no processo decisório visando beneficência/não maleficência/autonomia.
É essencial refletir sob quais informações dar-se-á a devolutiva afirmativa ou negativa do paciente. Em função do destaque do princípio da autonomia como respeito à pessoa do paciente, nenhum método diagnóstico, terapêutico ou preventivo deve ser aplicado antes de um Sim do paciente capaz e fora de uma emergência. Este Sim é verbalização de uma expectativa de bom/melhor.
Bioamigo, vamos considerar o habitua, o paciente se apresenta com uma queixa e desencadeia sequentes esforços de diagnóstico e seleção terapêutica. Podemos entender que num primeiro momento o paciente coopera com o fornecimento dos seu dados, depois, o médico exerce sua missão e, ao final, há o diálogo, muito embora, este possa – e deve- acontecer durante o processo de tomadas de decisão.
Desta maneira, um diálogo franco e frequente entre o profissional e o leigo faz-se bom/melhor para a chegada de informação/esclarecimento ao paciente para dizer o Sim ou o Não, onde a triagem se dá de modo mais fluido.
A Bioética da Beira do leito entende que a conexão profissional da saúde-paciente leigo pode ser classificada como um paternalismo num contexto da ligação das necessidades clínicas do paciente ao acervo da medicina em função do Princípio fundamental V do Código de Ética Médica vigente – Compete ao médico aprimorar continuamente seus conhecimentos e usar o melhor do progresso científico em benefício do paciente e da sociedade, e como uma expressão do respeito ao direito a autonomia nos momentos de devolutivas e decisões.
Bioamigo, você há de concordar que comumente faz uma série de seleções sobre possibilidades à medida que dados e fatos são esclarecidos, há descartes e continuidades, escolhas fundamentadas que não são necessariamente apresentadas ao paciente, não discutidas pela suposição que ele não teria a capacitação tecnocientífica para exercer uma crítica ao raciocínio clínico.
Assim, qualquer comunicação neste contexto seria tão somente verbalizar o pensamento e fazer o paciente acompanhar os esforções pelo bom/melhor. A Bioética da Beira do leito insiste que não seria incorreto nomear como paternalismo – o brando – e que afina com o proposto inicialmente por Gerald Dworkin (nascido em 1937) na década de 80 do século XX: paternalismo brando refere-se à atuação profissional que envolve adaptações quanto a uma ampla liberdade de quem não tem a necessária competência, mas – importante ressaltar-, sem, atualmente, expressar a aplicação final. Assunto delicado!
A Bioética da Beira do leito enfatiza que a tradição beneficente/não maleficente da medicina de certa forma contém colisões com a participação mais ativa do paciente no processo de tomada de decisão. É de se notar que o interesse da medicina na autonomia é recente e algumas décadas após movimentos pluralistas sobre outros aspectos da sociedade e com associação com o conceito que somente pessoas autônomas devem ser consideradas legalmente responsáveis.
Em outras palavras, o paciente é um agente moral autônomo que tem o direito de avaliar como bom/melhor – ou não- ao seu modo. O que precisa ser bem discutido é sobre o quanto, exatamente, que deve e não deve transparecer para o paciente do conteúdo total dos pensamentos do médico ao longo do atendimento.