A cena é da Praça do Mercado na cidade da Babilônia, uns 15-20 séculos antes da era cristã. Sob uma árvore, está sentado um doente e pelas leis vigentes, os transeuntes devem dirigir-se a ele e fazer recomendações sobre experiências pessoais com males semelhantes. Este espírito de anamnese representa, pois, desde há muito, a imprescindibilidade do espaço pessoal em meio a um espaço público.
Esta naturalidade gregária do ser humano, solidariedade, incorporou-se à medicina tão logo Hipócrates (460 ac-370 ac) assumiu o seu ensino e exercício. Tantos séculos decorridos, o atendimento médico tradicional é realizado numa distância pessoal (anamnese) e íntima (exame físico) entre profissional da saúde e paciente.
A Bioética da Beira do leito preconiza que os raciocínios motivados pelos conteúdos do par anamnese-exame físico já devem constituir referências para seleções acerca de subsequentes tomadas de decisão no contexto dos princípios da beneficência e da não maleficência.
A anamnese é desenvolvida numa área de aproximação entre 45 cm e 75 cm e de distanciamento de 75 cm a 120 cm, o que possibilita uma confortável emissão e recepção das vozes para o diálogo- por exemplo, delimitado por uma mesa de dimensões apropriadas. O exame físico do paciente é captado pelo médico numa contiguidade aquém de 45 cm, quer numa palpação direta do abdômen, quer numa ausculta do tórax tendo a intermediação do estetoscópio.
Tais adjacências são imperativos territoriais para o exercício profissional e associam-se a aspectos éticos e morais. Iniciativas de defesa profissional incluem a preservação do senso de território profissional conforme percepções clássicas.
Nos pequenos espaços suficientes para anamnese e para exame físico preservados, não importa a dimensão total do cômodo, médico e paciente demarcam mental e praticamente suas posições. Desta maneira, evita-se tanto a inquietude pelo paciente quanto a sensação de ameaça pelo profissional da saúde quando um deles muda da distância pessoal para a posição íntima no decorrer da anamnese.
Pode ser desagradável a invasão da zona interpessoal, este espaço que motiva uma constante salvaguarda, o “nosso espaço”. Assim como um eventual movimento de distanciamento pelo médico – tendendo a sair da distância pessoal e entrar na social-, no decorrer do exame físico, pode provocar uma desapontadora sensação de desacolhimento ao paciente.
Tudo isso representa uma comunicação extraverbal e tem forte significado na diversidade de influentes da conexão médico-paciente, onde órgãos dos sentidos como visão e tato desempenham funções primordiais.
A comunicação do profissional da saúde ao paciente constrói fortes percepções, vale dizer, provoca a emissão de sinais que de um modo intuitivo costumam se caracterizar como imediatas, inconscientes e determinantes de reações.
Assim, o profissional da saúde precisa estar treinado para observar três grupos de recursos reacionais de comunicação do paciente: a) verbal, o mais sujeito a uma autocensura quando da seleção de palavras para emissão; b) vocal, relativo ao modo da expressão verbal – mais alto, mais sussurrante, mais rápido, mais espaçado; c) não verbal, onde se reúnem postura corporal, gestos, proxêmica, expressão facial e direcionamento do olhar. observando-se, habitualmente, alto potencial de se sobressair aos demais, uma alta prevalência de impacto comunicativo porque representa forma mais primitiva de expressão do interior e menos controlável de maneira voluntária.