Convivemos com muitas palavras-síntese e uma que me atrai particularmente é um prenome e sobrenome de alguém. Após conhecer a biografia de um famoso- ou a história clínica de um paciente- a simples menção do seu nome traz todo um conteúdo à mente, idealmente fiel a várias dimensões da sua vida.
Off-label adquiriu uma “personalidade semântica” na beira do leito que cai como uma luva para sustentar reflexões sobre a reunião de convencimento e responsabilidade profissional, particularmente por encerrar uma visão de plausibilidade e vantagem para preencher lacunas terapêuticas em situações de mau prognóstico natural. Pretende, assim, deixar de lado, pelo menos provisoriamente, o forte compromisso com as evidências científicas incorporadas na prática clínica, algo como uma preponderância de evidências internas ao profissional da saúde.
De certa forma, valer-se de uma palavra-síntese na beira do leito com objetivo justificador articula-se com a propensão tradicional do médico de atuar em vez de não atuar, valendo-se de uma subjetividade sobre um método terapêutico que entende ter autonomia para manejar. Embute contornar incertezas fisiopatológicas que não pode resolver. Em algumas situações, nada muito longe do vai que!
A Bioética da Beira do leito testemunha que não é incomum na beira do leito a emissão da linguagem de modo reducionista para que o receptor pressuponha a utilidade. Afinal, o pensamento deve ser verbal para se comunicar e no processo pode haver o destaque por uma palavra representativa, como a incorporação do termo off-label.
O médico habitualmente convence-se da conduta recomendável ao paciente de forma label entendendo que é responsável pela aplicação do estágio mais avançado do conhecimento fundamentado na tecnociência a que se chegou na questão a respeito das necessidades de saúde do paciente- estado da arte.
A mente do médico, assim, trabalha com os dois termos convicção e responsabilidade, em sentidos corriqueiros, de modo inter-relacionado e solidário.
A dinâmica de considerações tecnocientíficas pode ficar sintetizada na comunicação facilitadora pelo médico ao paciente face às complexidades: estou convicto e é da minha responsabilidade. Cabe ao paciente compreender e confiar.
