A Bioética da Beira do leito ao valorizar o livre pensar relaciona-o à coragem criativa que capacita arriscar-se mentalmente ao desconhecido, consciente de refratário a uma autocensura imobilizadora e confiante numa chance de realização.
A Bioética da Beira do leito entende que o fascínio por um grau de rebeldia e transgressão dentro de limites do bom-senso sobre somos o que nos tornamos cria dissensos que contribuem sobremaneira para preservar a curiosidade, energizar a criatividade e forjar novas utilidades.
O cientista Mario Schenberg (1914-1990) considerava difícil captar a realidade sem uma fantasia poderosa e aberta aos maiores paradoxos, assim aconselhando a abrir veredas de pensamento além de demarcações de territórios do conhecimento.
No universo das ideias acerca do mundo sensível da beira do leito, o encadeamento do pensar com liberdade e de forma plural é beneficiado pelo emprego da metáfora, figura de linguagem que representa analogia condensada, economia de palavras na comparação que promove. Não colide com a ciência, ajuda na arte de aplicar a ciência.
Metáforas constituem elos, considerando que raciocínios no contexto da beira do leito admitem uma visão de cadeia na estruturação do pensamento. A Bioética da Beira do leito destaca como uma das metáforas mais aplicáveis na beira do leito o simbolismo arquétipo do labirinto que desde a mitologia grega participa da linguagem corriqueira.
A validade do uso metafórico do labirinto pelo profissional da saúde para questões da beira do leito pode ser depreendida pelo reconhecimento como local de incertezas, imprevisibilidades e desconhecimentos que predispõem à prática de beneficência por caminhos sinuosos sujeitos a obstáculos.
Beira do leito-labirinto é associação educativa para o profissional da saúde na medida em que estabelece um estado psicológico sobre o valor da persistência – uma procura contínua – quando, encruzilhada após encruzilhada, o profissional da saúde vê-se com dificuldade de progressão no (a)caso clínico, depara-se com fundos de sacos que fazem voltar, resolve recuar pelo já percorrido em busca de outras opções rumo à saída.
O famoso labirinto da ilha grega de Creta, onde Teseu matou o Minotauro associa-se a Ariadne, a personagem que deu ao herói um fio de lã para facilitar achar o caminho de volta.
Atribui-se ao fio de Ariadne uma representação da inteligência do ser humano frente a provocações e, por isso, vale expressá-lo metaforicamente como sensação de segurança para o profissional da saúde na sucessão de desafios bívios na beira do leito.
O simbolismo do fio de Ariadne, outrossim, possibilita ao profissional da saúde incorporar noções sobre nível de segurança na condução do (a)caso clínico. O fio condutor mitológico era curto, não cobria toda a extensão de um labirinto, mas era suficiente para dar segurança a cada avanço, o que bem se conjuga com o desenvolvimento habitual das condutas na beira do leito, etapa a etapa.