Enquanto as ciências da saúde promovem recomendações tendendo a uma aplicação de consenso na medida do possível para semelhanças de quadros clínicos, a condição humana faz cada pessoa enxergar a sua maneira as muitas interfaces obscuras entre saúde e doença, como os impactos da dor/sofrimento, a satisfação com o grau de independência pessoal e com a capacidade de realizar respostas a desafios físicos, sociais e emocionais.
Em decorrência, o paciente manifesta sua dimensão de usufruto do apoio tecnocientífico em suas questões de saúde de modo peculiar por vários intervenientes como personalidade, crença, cicatrizes de vida e perspectivas de futuro. Dentre os inúmeros modos de reagir ao suporte tecnocientífico há o de desistir da vida que tem sido alvo de grande interesse especializado sobre o respeito a escolhas existenciais, inclusive as ligadas a aspectos metafísicos, quer na terminalidade da vida, quer em alinhamentos ao universo do transtorno depressivo que atinge negativamente a disposição para a vida.
O predomínio altamente majoritário na beira do leito é o Sim doutor esperançoso em resposta às recomendações tecnocientíficas. É reflexo da vontade humana de consentir com a tecnociência aplicável no contexto assistencial e esta disposição confiante em se submeter alinha-se total ou parcialmente com calibragens de beneficência/não maleficência.
Dentro do conceito de praticidade na beira do leito, cabe, então, ao profissional da saúde prover uma atmosfera ética para que a manifestação do consentimento – ou não- possa ser ser resumida como: o Sim do paciente é sinal verde, o Não do paciente é sinal vermelho e o Talvez do paciente é sinal amarelo. Este semáforo da beira do leito reduz a luminosidade do vermelho e acentua a do verde à medida em que a eletividade caminha para a urgência e atinge a emergência. Razão de apreciação detalhada ética/moral/legal.
A Bioética da Beira do leito esforça-se em bem compor vínculos entre o princípio da autonomia, a virtude da prudência e a virtude da tolerância. Partindo do conceito que a prudência determina o que é preciso aprovar e o que deve ser evitado objetivando o futuro, é lícito considerar imprudência a atitude do profissional da saúde de não ouvir a voz do paciente capaz no processo de tomada de decisão sobre necessidades de saúde do mesmo- desrespeito ao direito à autonomia e viés de intolerância por não dar oportunidade a eventuais sugestões e objeções do paciente sobre recomendações aplicáveis.