Nestes 26 séculos desde Hipócrates (460ac-370ac), as ciências da saúde se constituíram e irmanaram-se tendo como denominador comum a incessante busca por algo novo. Cada avanço, quer motivado por acontecimentos externos, quer pela própria disposição expansiva disciplinar, por mais intrínseco que seja, nasce sempre com potencial interdisciplinar. Nenhuma beira do leito contemporânea pode prescindir da troca de métodos.
O sempre adiante admite movimentos pendulares entre o clássico acomodado e a inovação da irrequietude. A aceleração na incorporação e a duração são variáveis condicionadas pela demanda e pelas evidências sobre a qualidade.
O percurso é exigente de vigilância sobre as transformações e registros que refletem cuidados éticos/morais/legais para a definição de um ponto de chegada, vale dizer em termos de beira do leito, adoção ou rejeição no acervo da tecnociência.
Nesta última eventualidade, muitas esperanças beneficentes perdem-se pelo caminho pois a verdade científica é que comanda e e faz virar águas passadas, enquanto que algumas outras ficam orbitando sem incorporar-se ao rotineiro e constituem matéria-prima para conflitos, inclusive por informações divulgadas que não são endossáveis pela maioria dos profissionais da saúde.
Há uma disposição cronológica na incorporação de métodos nas ciências da saúde. Acolhe uma realidade de incessante com pontos marcantes. É persistente a motivação que Van Rensselaer Potter (1911-2001) teve para escrever Uma ponte para o futuro apresentando a Bioética. A frase célebre de Potter: “Nem tudo o que é cientificamente possível é eticamente aceitável” tem várias possibilidades de versões na pesquisa e na assistência.
Na beira do leito, facilita enxergar situações onde uma alta consideração da tecnologia provoca baixa consideração do aspecto humano envolvido. Trata-se de uma paradoxal visão de inadequação ao progresso tecnológico, uma expressão que se multiplica por muitos cenários conflituosos da beira do leito contemporânea gerados nos sucessivos reforços e atualizações quer do conhecimento, quer do comportamento.
Atuação na beira do leito faz lembrar imediatamente tomada de decisão. O processo decisório testemunha participação consciente, nível de racionalidade sensível à grandeza da base de informação, grau de intuição gerado por opiniões e sentimentos e percepções influenciadas por reciprocidades entre desejo, contato e interpretação.
Os partícipes da beira do leito almejam correção e integridade em relação à teoria numa aplicação humana e frutífera. A complexidade das interações entre o acervo das ciências da saúde e o emprego no ser humano provoca um terceto de tipos de decisão numa visão pragmática: Decisão procedente e necessária; Decisão procedente e desnecessária; Decisão improcedente e desnecessária.
Por isso, decisões éticas legítimas requerem treinamento em serviço para fortalecer a capacidade de identificar a necessidade de elaborar questões, formulá-las diligentemente e dar respostas com uso da razão e da crítica. É razão para a Bioética da Beira do leito enfatizar que muitas vezes é mais importante saber como pensar do que o que pensar.