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1026- Ética pratica-se (Parte 5)

Bioamigo, você há de concordar que o profissional da saúde lida com a ética utilizando a capacidade para compreender, reter, refletir e dar racionalidade a suas atitudes. Muitas escolhas são feitas, há o convencionado permitido, há o estabelecido proibido e fronteiras nem sempre claras entre ambos requerem apreciações interpretativas e constituem-se fontes de conflitos e de polêmicas sob risco de sanções.

Nebulosidades cotidianas pairam sobre todos profissionais da saúde os sujeitam constantemente a chuvas de reclamações e a trovoadas por atritos com paciente/familiar/instituição de saúde/sistema de saúde. Não há como isentar-se de obscuridades formadas por contraposições de pensamentos tanto gerados na mente do próprio profissional da saúde quanto forjadas pelo paciente. A Bioética da Beira do leito dispõe-se a cooperar para que uma visão abrangente e profunda das indeterminações possa resultar fio condutor ético.

A disposição para o bem na prática da beira do leito é um constructo. Em cada profissional da saúde, há um ponto de origem representado por uma bagagem pré-profissional acumulada desde a matéria-prima da educação familiar, da escolaridade, dos influxos da convivência com literatura/artes, da informação em geral e, especialmente da convivência com diversidade de gente. Já na faculdade, a continuidade acumulativa faz-se pela assimilação de especificidades e ajustes à profissão. A seguir, no decorrer da vida profissional propriamente dita, uma multiplicidade de vivências agradáveis e desagradáveis amadurece a competência de bem decidir trânsitos com rigidezes ou flexibilidades.

É um encadeamento que ocorre em paralelo com as aquisições do conhecimento tecnocientífico e os desenvolvimentos de habilidades, sem o que, evidentemente, a ética seria vazia de finalidade. Acontece que parte das integrações que se sucedem despencam progressiva e rapidamente do topo da  consciência e necessitam de um processo de resgate. O que fica consciente resposta automática à demanda pode ser comparável à parte emersa do iceberg. Tão somente para um exercício reflexivo, 89% – qual a parte imersa do iceberg- da bagagem acumulada não responde com um imediatismo.

Pelo processo constitutivo do pensamento e do sentimento, mergulhar para enxergar as camadas imersas torna-se capital para bem lidar com aspectos mais espinhosos do processo de tomada de decisão sobre necessidades de saúde do paciente.  Este, por sua vez, precisa passar pelo processo de esclarecimento atuando como se os muitos anos necessários para assimilar e formatar a  sabedoria pelo profissional da saúde fiquem compactados em poucas horas ou dias para cumprir a obrigação de responder às recomendações com um Sim ou um Não.

Assegurar um de fato esclarecimento tecnocientífico pelo paciente está sempre sujeito a variadas percepções de calibragem. Pela dificuldade do paciente para aprofundar-se com tempo em todos os aspectos decisórios apresentados pelo profissional da saúde e, por isso, costuma prevalecer ou a confiança/desconfiança inter-relacional ou algum ângulo pessoal ligado a desejos, preferências, objetivos e valores.

Em decorrência, níveis do etiquetado como esclarecido pelo paciente aproximam-se dos passados de menos conhecimento do profissional da saúde. Estar cônscio desta realidade – Eu já fui você ontem–  contribui para o diálogo empático profissional da saúde- paciente nos processo de esclarecimentos ao longo dos acontecimentos. Reduz, outrossim, interpretações de arrogância, superioridade, dominação e narcisismo por parte do profissional da saúde. Descarta na medida do possível certas ilusões que se aproximam do fanatismo associadas à aplicação da tecnociência. Faz libertar de amarras morais sem desconectar das obrigações. Simplifica atuar sobre o que não é nem demonstrável nem refutável sem prejudicar os compromissos com as complexidades. Amaina conflitos entre verdade e certeza, verdade e valor, que expõem fortes restrições a uma visão do absoluto, pela aplicação da virtude da tolerância, respeito sem significar passividade.

Assim sendo, a necessária grandeza de confiança na medicina – e ciências da saúde em geral- no ambiente da beira do leito por parte do paciente significa em muitos casos capacidade para apossar-se do maior tempo de desenvolvimento do saber pelo profissional de saúde na escassez de tempo que as circunstâncias intranquilas  promovem. A Bioética da Beira do leito enxerga a confiança do paciente no profissional da saúde como probidade que socorre a vulnerabilidade.

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