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1014- Pit-stop na beira do leito (Parte 4)

O progresso da medicina direcionou para a prevenção, motivado pela velha máxima que é melhor prevenir do que remediar. Preservar a capacidade de lidar perante as circunstâncias dentro de uma visão de prudência, ou seja, um sentido de fidelidade ao futuro.

Mas,- sempre tem um mas- a diversidade da condição humana faz com que cada recomendação técnica fique sujeita a variações de interpretação e aceitação. Um paciente irá aceitar de bom grado uma lista de exames preventivos a fazer e outro paciente vai reagir com insatisfação pois está muito bem e não deseja criar razões para interromper a fase, ter de se submeter a eventual procedimento, seus riscos, suas consequências.

De fato, qualquer apreciação sobre a díade subjetivismo-objetivismo é questão de gradação, onde uma dinâmica se estabelece com inúmeras vertentes e exige um apaziguamento dialógico sempre que houver divergência sobre a percepção sobre bem e mal da antecipação preventiva assintomática e associada a excelente qualidade de vida.

É quando a Bioética da Beira do leito apregoa que o usuário do seu corpo e mente deve ter voz ativa para manifestar seu ponto de vista, desejos como primeira ordem e preferências em segunda ordem. Nada mais desumano do que uma beira do leito insípida, inodora e incolor, ou seja marcada pela indiferença. Tem que ter gosto, cheiro, cor, acolhimento enfim. O diálogo dá sentido, com certeza aquele que é esclarecedor, concentrado em produzir interações subsequentes entre a linguagem profissional e a linguagem leiga. Não é só queixas, exame, prescrição e o próximo! Há um tempo qualitativo que desafia a liberdade que o tempo (sua falta) tem negado.

Um dos efeitos habituais do diálogo que é assim provocado é o entendimento das justificativas de ambas as partes e muitas vezes exigente da tolerância. Não é incomum, manifestar-se uma intolerância profissional conduzida pelo receio de um não consentimento à aplicação recomendada represente uma imprudência- infração ao artigo 1 do Código de Ética Médica (2010).

Padronizações tecnocientíficas versus peculiaridades humanas numa beira do leito sempre complexa. Um poder da ciência que se pretende cada vez mais fortalecido para desfazer as dobraduras da complexidade, mas que não pode se tornar um superpoder profissionalmente narcisista.

Não pode ser ignorado que genes e ambientes constroem cenários distintos e que a beira do leito é um ecossistema com bióticos e abióticos que idealmente se atraem, mas exibem muitas rejeições. A Bioética da Beira do leito entende que a beira do leito contemporânea é produto da evolução tecnocientífica, portanto, do trabalho do ser humano aplicador, com paradoxais ajustes pelo ser humano receptor.

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