A sensação resultante da observação de carência é tal que faz supor que mesmo se aspergíssemos gotas de Bioética no ar condicionado central institucional, à semelhança da cloração dos reservatórios de água potável, não haveria a absorção almejada no conjunto dos ambientes. Predomina de fato, a suposição de impermeabilidade e pela representação negativa para o ecossistema necessita ser pauta recorrente em reuniões de Bioética e disparos comunicativos a gestores. Enfim, um movimento pró-Bioética é da modernidade, embora engatinhe há décadas. Lentidão sugere desinteresse. Onde estará o gatilho do desejo impulsionador, da oportunidade motivadora, do interesse pela necessidade?
É indubitável que trabalhar diagnósticos e promover alopatias, mesmo em doses homeopáticas, no campo da Bioética significa promover sustentabilidades éticas, morais e legais para o bem melhor da instituição de saúde. Contribui para reverter pensamentos de coisa de entendidos que não serve para quase nada no desempenho.
Procuro identificar etiopatogenias do distanciamento há mais de duas décadas. Confesso que avancei pouco apesar da preocupação diuturna e do interesse na literatura. Todavia, cada grão acrescido é promissor pois nos remete à história da recompensa pela invenção do jogo de xadrez.
Tendo como pano de fundo a máxima que de grão em grão a galinha enche o papo, a capilarização institucional da Bioética é um desafio que se mostra refratário à composição multiprofissional e à inteligência transdisciplinar. Enfrentá-lo exige informação detalhada e coragem criativa, aquela que descobre novas formas, novos padrões e novos símbolos, como nos ensina Rollo May (1909-1994) em seu livro A Coragem de Criar. Todavia, não parece suficiente, pois a aplicação de ideias neste sentido em hospital universitário de alta qualidade mostrou resultados pífios. O solilóquio mantém-se, teimosamente, apesar dos insucessos: insistir, persistir, não desistir, amanhã será um novo dia.
Mas não é uma questão de Bioética zero, é de sua conscientização e valorização. Pois o biótico do ecossistema institucional tem uma bagagem de Bioética trazida da época pre profissional produzida pela educação e que de certa forma amplia-se e ajusta-se ao efetivo exercício do profissionalismo. Assim sendo, cada colaborador não deixa de ter suas próprias habilitações para se conduzir pelas tortuosidades das circunstâncias a que são envolvidos diuturnamente.
Todavia, o quantum não é suficiente. É sabido como a beira do leito é versátil e convive com verdades temporárias e dúvidas permanentes que se entrelaçam e minam o sentido de segurança de orientações. Quem sabe a maioria nem perceba a insuficiência, a fase em que se desconhece que não sabe. É delicado mostrar-lhes, aliás, comumente é fonte de antipatia ao invés de ser visto como contribuição de coleguismo.