PUBLICAÇÕES DESDE 2014

91-Nascido no século XIX, atual no século XXI

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William Bart Osler (1849-1919)

O médico atualiza-se constantemente.  Espera-se.   O paciente  modifica-se habitualmente. É esperado.

Uma relação médico-paciente é sempre dinâmica no atendimento às necessidades. É fato comum o paciente retornar 5 anos depois do estabelecimento do diagnóstico de uma doença com outras necessidades,  em função da evolução clínica natural, e ser conduzido de modo distinto ao que poderia ter sido conjecturado naquela ocasião, como exercício de prognóstico. É o clássico  vamos observar, caso a situação mude, tomaremos outras providências.   Pelo rápido progresso da Medicina, outras providências no futuro  é observação cada vez mais difusa.   Os 5 anos mencionados encurtam-se rapidamente em várias áreas de atuação da Medicina.

O exercício da Medicina reforça a noção que todo passado representou um   presente com futuro. E o que a vivência tornou-se memória. A tradição é uma forma de memória que facilita dar continuidade a valores e a costumes. Por isso, a validade simbólica do Juramento de Hipócrates.

William Bart Osler (1849-1919) viveu num passado que o deixou famoso. Tornou-se um ícone da Medicina. Ele é um exemplo atual para o uso da técnico-ciência? A resposta é um enfático não! Mas ele é um exemplo para o ser médico.

Osler foi um reverberador de Hipócrates sobre fundamentos da Medicina. É necessário que haja esta função, periodicamente, para que o estudante de Medicina/jovem médico persistam locomovendo-se no trilho da Ética. Para que o futuro não exista  dissociado do passado quando se trata de fundamentos morais de uma relação médico-paciente.

Alguém dirá que Osler era paternalista. Não há nem como comprovar  nem como refutar. Ele estava inserido numa época onde não havia muitos métodos terapêuticos ou diagnósticos que não por meio do exame físico para queu se solicitasse o consentimento do paciente.

Na minha vivência de décadas, só tive um paciente que me disse que se negava a ser examinado por qualquer médico, a exceção que confirma a regra que o exame físico habitual é tão-somente um ato de permissão. Ou seja, é uma questão de respeito, de educação , um introdutório dá-licença, que não subentende a possibilidade de uma negação, como o consentimento.

Aforismo é curta observação com preceito moral. Osler deixou vários. Relaciono 30 deles, a seguir. Uma contribuição para a preservação da ponte entre o passado e o presente/futuro chamada uma geração educa a seguinte.

1.       A prática da Medicina é uma arte baseada na ciência.

2.       Aprende-se Medicina à beira do leito e não na sala de aula.

3.       O hospital deve ser parte da Escola Médica.

4.       Nunca sugestione o paciente durante a anamnese.

5.       Registre tudo que tenha visto.

6.       Estudar uma doença sem o livro é aventurar-se no mar sem bússola. Estudar no livro sem ver paciente é não ir ao mar.

7.       Metade de nós é cega, poucos de nós sentem e somos todos surdos.

8.       Paciente com lista escrita de sintomas. Redução de chance de doença específica.

9.       Esperamos demais dos estudantes e os ensinamos muito. Dê-lhes bons métodos e pontos de vistas e tudo o mais virá à medida em que a  experiência acontece.

10.   O médico que trata de si próprio é um tolo.

11.   A principal função de um consultor é fazer o que foi esquecido.

12.   Pedir conselho é desejo de confirmar o que já decidiu.

13.   Variabilidade é a face da vida. Como não duas faces iguais, não há dois corpos iguais, duas reações individuais iguais a doenças.

14.   Erros acontecem na prática da arte da Medicina porque julgamentos dependem do equilíbrio de probabilidades.

15.   Erros ocorrem pela facilidade com que médicos satisfazem-se com observações superficiais e relembram certas evoluções de casos semelhantes.

16.   O médico nunca pode esquecer-se do muito que não sabe.

17.   Numa experiência, veja-se dentro do tubo de ensaio junto com o paciente.

18.   O jovem médico começa a vida profissional considerando 20 drogas para cada doença. O médico idoso aposenta-se com uma droga para 20 doenças.

19.   Desejo que lembrem de mim pelo ensino aos estudantes efetuado em enfermarias.

20.   As filosofias de uma época tornam-se absurdos para as próximas, assim como as tolices de ontem transformam-se em sabedoria amanhã.

21.   Quanto maior a ignorância, maior o dogmatismo.

22.   Em ciência, o crédio vai para quem convence o mundo, não para o autor da ideia.

23.   Se o seu assistente fizer uma observação importante, deixe-o publicar. É através dos discípulos que você ganha honra.

24.   Não tenha vida de borboleta -pousa aqui e já voa para ali-, vá à profundidade, é difícil, mas terá enorme valia.

25.   Olhe com sabedoria e fale pouco. Discursos bloqueiam o pensamento.

26.   Desvencilhe-se de toda a ambição que não seja a de cumprir bem a tarefa do dia.

27.   O desprezo pelo conhecimento das humanidades é prejuízo para a qualidade profissional.

28.   É surpreendente como um pouco de conhecimento permite a prática da Medicina, mas não surpreende que ela será de má qualidade.

29.   O médico vê com as mãos como um cego, ouve com os olhos como um surdo e fala com os dedos como um mudo.

30.   O aneurisma da aorta expõe o valor da humildade no médico.

A atualidade de Osler está na combinação de dedicação ao trabalho, prazer de ensinar, vontade de publicar, análise crítica do ser médico, papel da ciência na atualização dos métodos assistenciais e, especialmente, o valor da beira do leito como proximidade ao paciente.

A Bioética da Beira do leito, quando aponta para a importância da individualidade nos cuidados com a saúde,  está, de certa forma, ecoando  a essência dos objetivos de Osler: Qual é o diagnóstico? Qual é o melhor tratamento para este paciente? O que deve ser feito para fazer este indivíduo retornar o mais próximo de suas atividades habituais?

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