Os cursos de ética, como propostos nos modelos antigos, são claramente insuficientes, sob a luz dos conhecimentos atuais, para atender à necessária formação humanística dos atuais e futuros profissionais da saúde.
Torna-se fundamental, portanto, que, mais do que o ensino de Medicina legal e Deontologia pelo modelo passivo de ensinar-aprender com aulas magistrais, se adotem lições de Bioética, adotando o modelo socrático, com ampla integração docente-discente-realidade social, como propõe o Prof. Dr. José Eduardo Siqueira, da PUC do Paraná.
Os debates do modelo socrático promoverão duas consequências importantes.
A primeira delas trata da percepção das habilidades cognitivas e afetivas dos alunos, que refletirão e se conhecerão melhor, mas também ouvirão e aprenderão a respeitar os pontos de vista diferentes dos seus, assim como a estabelecer e comunicar sem receio suas mudanças de opinião, ou a argumentar, propiciando as mudanças dos outros, quando isso se fizer necessário.
A segunda entende que os alunos deverão ter contato com a pluralidade da nossa sociedade, convivendo com pessoas diferentes do ponto de vista social e cultural e com diversas profissões relacionadas. Isto lhes trará noção de transdiscipinaridade e despertará sentimentos como compaixão, solidariedade, respeito e justiça, levando ao aprimoramento da sensibilidade, raciocínio, comprometimento e percepção morais.
Treinado durante toda a graduação, esse processo permitirá aos jovens a compreensão das diversidades culturais e pessoais, passando a respeitá-las, e trará melhor entendimento do percurso que leva o ser humano da anomia (falta de objetivos e perda de identidade provocada pelas intensas transformações do mundo social) à autonomia (liberdade do indivíduo em gerir livremente sua vida, efetuando racionalmente as suas próprias escolhas). Sendo assim, haverá modificação na maneira de utilizar a abundância de novos conhecimentos e recursos técnicos, com a moderação necessária para a adequada tomada das decisões clínicas.
Esse deverá ser um exercício constante de tolerância, prudência e acolhimento, que aprendido na escola e bem orientado por mestres capazes, acompanhará os profissionais pela vida afora, com treinamento para evitar preconceitos, promovendo a incorporação de valores, como humildade, respeito e grandeza de alma para reconhecer e corrigir os erros que, certamente, serão cometidos.
Dessa maneira, a Bioética exercerá seu papel de “ponte para o futuro”, como definida por Van Rensselaer Potter em 1971, solucionando e instigando novos problemas, contemplando as interfaces entre tecnociência e humanidade e o “encontro agapeano entre gerações”, como propõe o Professor Emérito William Saad Hossne, da FMUNESP de Botucatu.
Segundo sugestão deste emérito professor, sumidade da Bioética brasileira, parodiando Epícuro , “nunca é cedo ou tarde demais para bioeticar”, tornando mais puro e abrangente o olhar aos nossos pacientes e seus familiares e aos nossos colegas de trabalho.
Para proporcionar a possibilidade de se ampliar esse “encontro agapeano” e a construção da “ponte para o futuro”, de maneira constante e muito além das salas de aulas ou conferências, o Prof. Dr. Max Grinberg nos brinda com um espaço para “bioeticar”, onde conflitos bioéticos do dia a dia poderão ser colocados e debatidos.