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338- Tragada, estragada e ex-tragada

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Crédito: https://tufumastodosnosfumamos.wordpress.com/

Cada paciente tem sua história de vida, sua apreciação sobre momento da enfermidade, impacto no bem-estar e qualidade de vida. Poderíamos redigir de outra maneira, cada pessoa tem sua história de vida, sua visão do presente, perspectiva de futuro, sua apreciação sobre saúde, bem-estar e qualidade de vida.

Na fronteira entre paciente e pessoa está o cidadão ou cidadã que vai ao médico fazer um checkup, nada sente, não apresenta nenhuma queixa sobre restrições a suas atividades de interesse e obtém a reconfortante informação que os resultados dos exames efetuados são normais. Ele é um paciente por convenção de linguagem, mas não é um doente porque não tem uma enfermidade identificada.

Contudo, este indivíduo aos seus quarenta anos de idade é fumante, sedentário, tem péssimos hábitos alimentares  e carrega certa carga genética exigente de atenção. Modificações fisiopatológicas fazem-se sorrateiras em  partes do seu corpo. No mínimo, ele está envelhecendo. Mas ele se sente uma criança, inclusive pela despreocupação com o futuro da sua saúde.

Algo como é a puericultura que sensibiliza a responsabilidade da mãe para com a criança inexiste quando a pessoa passa ser dona do próprio nariz. A inserção do adolescente no mundo construtora da sua emancipação significa adesão a etiopatogenias que têm períodos longos de incubação e cujas subsequentes manifestações acionam mecanismos compensadores eficientes para manutenção da compatibilidade com uma vida produtiva.

O intervalo de tempo entre subclínico e clínico tem efeito teflon sobre argumentos de prudência quanto a estilo de vida, de modo que eles costumam entrar por um ouvido e sair pelo outro sem aderir as mensagens na mente. É aquele período de vida intensa e auto-avaliação de saudável. Até mesmo após diagnósticos preocupantes, argumentos de precaução com a saúde não tocam o coração em seus vários sentidos.

Constatações de hiatos entre a visão humana e a visão fisiopatológica na prevenção de assintomático provocam uma sensação de pessimismo para as intenções do médico de reduzir a vulnerabilidade humana ao externo etiopatogênico como a dengue e ao interno da constituição como o diabetes. Uma realidade de desconsideração de  grande parte da sociedade pelas recomendações médicas baseadas em evidências científicas. Uma dificuldade da condição humana de seguir o É melhor prevenir do que remediar que infectologistas exemplificam numa série de comportamentos de risco da população para contato com o vírus HIV por excessiva confiança nas disponibilidades farmacológicas- Eu estrago, a Medicina remedia.

Nesta dissonância entre emissão e recepção de comunicações sobre prevenção na saúde, é emblemática  a questão do tabaco. O prazer e o charme do fumar que as propagandas antigas tão bem exploraram para apoiar a expansão industrializada do consumo nas primeiras décadas do século XX não desapareceram da vida real. As tragadas mantém-se fortes determinantes de pausa na sensação de estresse apesar de renomeadas nos meandros da ciência para estragadas pelo sólido conhecimento que o tabagismo está relacionado a doenças graves e irreversíveis. Neste contexto de hedonismo em que o prazer é o bem supremo da vida humana, o cigarro e quetais persistem tendo alta rotatividade em prateleiras onde se compra o pão nosso de cada dia e nas bocas portas de entrada do mal cumulativo. Médicos até já pararam de dar bronca no fumante e percebem pouca adesão a programas anti-tabaco, apesar da boa intenção pelo fumante. Os impostos da venda contribuem para financiar o diagnóstico e o tratamento das doenças decorrentes, numa equação perversa e de cálculo difícil. Tudo se passa como um não consentimento coletivo da sociedade a  uma recomendação de seguro de vida pela Medicina.

Em outras palavras, há movimentos provocadores de danos à saúde mais fortes sobre as pessoas que os contramovimentos de proteção à saúde disponíveis na Medicina contemporânea.  Evidentemente, não é fácil cumprir a auto disciplina para um grau eficiente de austeridade de hábitos ao gosto da ciência preventiva. Assim, persiste atual  o pensamento do poeta romano Públio Ovídio Naso, conhecido como Ovídio (43 ac –17 dc): Nada é tão forte quanto um hábito. 

Enquanto falamos da condição humana plural, um contingente de super-inovadores desenvolve inteligência artificial e cria seres não humanos na constituição física e com potencial de superar – pode significar passar a ter o domínio- o Homo sapiens em muitas circunstâncias.

Uma alçada para o bem de uma invasão por tais intra-terrestres não humanos na área da prevenção em saúde – suponho que não seriam fumantes- seria programá-los para selecionar as formas de impacto na comunicação individualizada que melhor sustentariam a atenção e a sujeição aos argumentos. Uma grande contribuição para a Bioética!

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