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274- Homogeneizando a Bioética

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Ideias e pensamentos dão sustentações pela Bioética à qualidade de tomadas de decisão  na beira do leito. Dispostos com linguagens análogas e títulos variantes comungam objetivos de máxima integração entre ciência, moral e ética.

As ordenações não são excludentes. O Principialismo recomenda o escalonamento de níveis de benefício conceitual filtrados por níveis de não malefício individual e dá-lhes sinal verde, amarelo ou vermelho. O foco na Responsabilidade sustenta que ser ético não é somente cumprir boas intenções, mas também afastar-se de más consequências previsíveis, ou seja, associa o termo prognóstico ao semáforo acima mencionado. A Deliberação enfatiza a prudência, que sendo a virtude da fidelidade ao futuro, valoriza a amplitude de ângulos de visão sobre as incertezas para  escolhas  de benefício possível com adequada avaliação de riscos. A Bioética da Beira do leito percebe que evitar malefício na aplicação do benefício é tarefa difícil de ser cumprida, na acepção da palavra, o que faz propor o uso do termo segurança (níveis) no lugar de não malefício.

Exemplo 1-  Paciente em insuficiência renal tem indicação para exame de imagem com contraste.  Qualquer apreciação pela Bioética, independente da doutrina, terá unanimidade em julgar como sinal vermelho, agravamento da disfunção renal como consequência altamente previsível, imprudência e desaconselhado pela segurança. Perfeita superposição!

Exemplo 2- Paciente com metrorragia frequente por miomas uterinos tem indicação para uso de anticoagulante oral por prazo prolongado. Os vários óculos de apreciação da Bioética proporcionarão uma expansão do raciocínio para tomada de decisão com superposição ao simples binário risco de metrorragia-hipótese de transfusão da sangue /benefício da anticoagulação- evitação do tromboembolismo. Eles proporcionarão formas semelhantes para a construção de uma resolução. O médico que decidir pelo sinal vermelho principialista ao uso do fármaco estará igualmente pensando na consequência previsível da hemorragia, evitando ser imprudente -para que amanhã não ocorra uma grave anemia e privilegiando a sua visão de segurança do paciente. O médico que porventura decidir pelo sinal verde estará igualmente considerando numa dimensão oposta, dando ênfase preventivo à consequência tromboembólica, colocando em escala superior a prudência e a segurança em relação a um mal – acidente vascular cerebral, por exemplo- que considera maior.

Fundamento destas dualidades benefício/malefício, intenção/consequência, prudência/imprudência, segurança/insegurança  é a noção que o organismo humano é um conjunto de órgãos e de sistemas com possibilidade de durações diferentes. Assim, a adaptação aos seus ambientes e a independência de vida do paciente após a aplicação da tomada de decisão vai depender sobremaneira da harmonia/desarmonia dos efeitos dos métodos diagnósticos e/ou terapêuticos sobre estruturas que embora comunguem mesmo DNA, a eles  reagem distintamente. No contexto do exemplo 2, a eliminação cirúrgica do útero- que pode já ter cumprido a finalidade da procriação- contribuirá para a preservação de órgãos então indispensáveis.

No processo de tomada de decisão, parte-se de uma atualização do presente biológico considerando o que o passado possa ter influenciado em todo o organismo. Havendo o intuito de uma reversão de enfermidade, o passo seguinte do médico é cuidar para que prescrições não provoquem nem danos nas normalidades, nem agravamento em anormalidades. O mesmo vale para o intuito preventivo.

Como a Medicina nem sempre pode garantir o ideal, trabalha-se com possibilidades por meio de pensamentos estatísticos, cuja ordenação é facilitada pelas modelagens de inspiração pela Bioética.

A vertente médico-Medicina, em que o paciente participa como emissor de informações -anamnese e exames- e potencial receptor do estado da arte pertinente aos sintomas e sinais, ganhou nas últimas décadas a companhia cada vez mais vigorosa da vertente médico-paciente ativamente partícipe.

A expectativa que as “realidades” técnico-científicas validadas no passado remoto e recente da Medicina – memória da experiência própria e coletivizada na literatura – se repetirá como um “presente vivo”- pegando carona com Giles Deleuze (1925-1995)- precisa combinar com “realidades” do paciente, nomeadas como valores.

O principialismo utiliza a autonomia, uma passagem pelos valores do paciente que verifica apreciação mais pessoal de consequências, considerando ser prudente tolerar a individualidade do paciente pelo respeito à diversidade da condição humana. Será o consentimento- ou não- do paciente nutrido pelos valores estimados que viabilizará – ou não- a mudança da adjetivação da conduta de aplicável para consentida (Quadro).

INCORMar2016

O médico bem formado e continuadamente melhor pós-graduado edifica o seu profissionalismo numa arquitetura de Bioética quando cônscio que é um ser humano que aplica o seu saber técnico-ciência (relação médico-Medicina) a outro ser humano com a força dos valores (relação médico-paciente).

Eventuais não consentimentos pelo paciente instigam a Bioética.  Muitos são ditados por uma submissão ao passado, como uma crença religiosa, uma determinada experiência, uma filosofia de vida, ou mesmo a não superposição da palavra do médico ao desejo que leva para a consulta.

Uma desconstrução, tão responsável quanto isenta de qualquer manifestação de coerção, deste passado por iniciativas de diálogo esclarecedor  pelo médico representa um espaço ainda desejável  para o paternalismo. É o chamado paternalismo fraco. Ele é eficiente e ao se encaixar nas várias ordenações dadas de Bioética na área da saúde, reforça a superposição de ideias e de pensamentos e objetivos comuns das mesmas. espiral

A síntese de denominações com entendimentos não excludentes entre si compõe uma Bioética de todos nós, proteção e equilíbrio, e que celebra a visão de Van Rensselaer Potter (1911-2001). É a beira do leito vista como um ecossistema. Interações entre biologia e ética, entre disciplinas dentro e fora da área da saúde, entre inovações e o clássico representam tanto vantagens como desvantagens para olhares distintos quanto à consistência na luta por um fim superior-dignidade!

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