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195- Bioética da Beira do leito. Desejável.

A Bioética da Beira do leito é atenta à qualidade dos recursos humanos que compõem o encadeamento estudante de Medicina, interno, residente, pós-graduando, pós-doc, professor de Medicina. Há muitas confissões de falências de atividades profissionais neste circuito que consome muitos anos de vida, é verdade, porém não faltam pessoas pretendendo a excelência nos cuidados com a saúde do brasileiro. Lema de muitos bem-intencionados e atuantes é que fragilidades precisam ser expostas e causalidades das mesmas defrontadas corajosamente. Multiplicam-se diagnósticos de conflitos médico-paciente ávidos por esforços para prevenção e resolução. O bioamigo faz parte da turma disposta a beneficiar a qualidade da beira do leito.

Mais do que espectadora, a Bioética da Beira do leito mobiliza-se para contribuir efetivamente para a eticidade de quem pratica Medicina validada e indicada. Ênfase sobre a convicção que o empreendimento de atitudes deve qualificar-se por treinamentos, aprendizados e aperfeiçoamentos ao longo do encadeamento supra-citado. Entusiasmo pela noção que os elos são ao mesmo tempo mestre e discípulo. Umas ligações são mais mestres, outras mais discípulos, evidentemente, mas há lições nos dois sentidos. A dupla mão de direção facilita atapetar os naturais desníveis e considerar “atualizações de expressão” ao efeito Orloff- eu serei você amanhã. É fundamental observar que as novas gerações movem-se na memória que têm das prévias, há as lembranças que conservam e há as que ajustam aos novos tempos. Cada passo supervisionado é uma descoberta, logo uma absorção e a seguir um retoque na constituição da identidade profissional do jovem médico que tem a cara da sua época. Hipócrates é imortal porque renasce como fio condutor a cada geração de médicos.

Uns poderiam perguntar se a Bioética da Beira do leito não estaria sendo excessiva porque pretende mediar muita coisa. Outros, indagariam se a Bioética da Beira do leito não estaria sendo ingênua pela expectativa de reaproximar muita coisa. Responderia que a maioria dos casos não necessita de uma chamada externa pela Bioética da Beira do leito, pois cada médico a pratica – sem excessos e sem ingenuidades- embutida na sua rotina. É a Bioética de todos nós, meio que oculta, mas de certo presente na habitualidade. Claro que quanto mais houver a consciência que há a utilização de uma atividade de Bioética, mais precisa será e mais reconhecida no seu valor. De fato, não podemos esquecer que hábitos repetem-se porque atendem às expectativas. É de se crer que linhas da Bioética – agora tornadas disciplinares- foram se homogeneizando com os demais conhecimentos e habilidades, geração a geração, para atender às problemáticas. Uma antecipação da sistematização que faz soar  a “naturalidade Bioética” como descolada da identidade atual, resultando desapercebida como Bioética pelo olhar costumeiro.

Todavia, este “atavismo profissional” mostrou-se insuficiente. Especialmente, perante a força de autoritarismos, coerções e  dos usos criminosos da Medicina. A Bioética explícita nasceu concebida como uma ponte para o futuro. E afirmando o conceito de ponte como solucionador de interrupções, tornou-se vantajosa para a complexa interação entre a profusão de métodos técnico-científicos validados ou a validar e o respeito às vozes dos seres humanos intervenientes emitidas num ambiente de crescente atenção às infinitas combinações de caráter, personalidade e temperamento presentes numa relação médico-paciente. Hoje há mais dilemas, há mais confrontos requerendo mais percepção e mais sensibilidade conciliatória com repetições não exatamente idênticas. Crises acontecem com sucessividade na beira do leito, tanto pelos desejos de mudar o fluxo da doença quanto pelas conveniências de não enfrentar os modos necessários pata tal. São momentos de tensão exigentes do desempenho articulador da Bioética que expande ou que contém movimentos visando ao encontro da melhor cópia de modelos aceitáveis para bem-proporcionar as contraposições.

Assim como Diretrizes clínicas são bússolas -não algemas-, a Bioética da Beira do leito subsidia o pensamento para regular o conhecimento científico e dar um sentido individualizado a informações, a compreensões, a razões, a imaginações e a analogias. Diretrizes clínicas não podem fazer do médico um boneco de ventríloquo. Elas, pelo contrário, devem representar instrumentos de liberdade com segurança para um determinado tempo histórico. Assim é com a Bioética da Beira do leito, ela traz vantagens para uma navegação médico-paciente livre e segura em meio à ciência, à arte e à Ética, para  que melhor reconheça os icebergs  formados por friezas de relacionamentos. Idealizações da infalibilidade da ciência, da indiscutível segurança das pessoas e da  uniformidade de desejos  tais como havidas em relação ao Titanic são reprováveis pela Bioética da Beira do leito. Uma falta de binóculos pode comprometer garantias da tecnologia.

A Bioética da Beira do leito contribui para o juízo crítico da chamada fase de mercado de inovações. Ela auxilia a  refletir sobre realidades de resultados desfavoráveis ligadas ao reducionismo de interpretação das conclusões de pesquisas científicas. Ela facilita lidar com as frustrações das expectativas geradas pelos níveis de utilidade e graus de certeza  apresentados em Diretrizes clínicas. Ela ajuda a compreender os embates entre a razão e a emoção  e assimilar justificativas a não consentimentos pelo “agora sim, a resolução”.

Enfim, a Bioética da Beira do leito é instrumento de moderação do ser médico “científico”, de estímulo à arte de ser  médico e de imperativo ao ser médico ético, ao mesmo tempo em que reconhece que o paciente tem direito à voz  e emitindo-a assume responsabilidades.

 

 

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