Felicidade é ter o que fazer. Este pensamento é atribuído a Aristóteles (384 ac-322 ac).
Médicos – e profissionais da saúde de modo geral- têm muito o que fazer, sempre. Se se sentem profissionalmente felizes, cada um deve responder.
O que posso afirmar é que a Bioética contribui para o bem-estar profissional, sem nenhuma pretensão de encaminhamento a qualquer expressão do Nirvana.
Pois o médico sem a Bioética é capenga. Já a Bioética sem o médico é cega. A Medicina sem a Bioética é surda. Já a Bioética sem Medicina é sem paladar.
Médico e paciente caminham juntos e enxergam-se corretamente quando atos e palavras mostram-se correspondentes. Medicina e Bioética ouvem-se e se degustam corretamente quando conceitos e princípios mostram-se correspondentes.
Errar a mão e ignorar a prática do consentimento são pecados maiores da beira do leito. As placas de advertência são nítidas: Cautela e Humildade.
Cautela para puxar o arco, mas não soltar a flecha. Uma prudência ligada ao Princípio da Autonomia e balizada pelo consentimento livre e esclarecido.
Humildade para reconhecer que Herrar é Umano. Que existe o mau dia da decisão imprudente ou da realização negligente. Que danos requerem reparações, tanto no sentido da reversão dos mesmos, quanto no de ressarcimentos. E que a mesma beira do leito onde o erro profissional acontece é a mais pedagógica sala de aula para a reciclagem no sentido do acerto. Lembremos Confúcio (551ac-479ac): “… Podemos lamentar que a rosa tem espinhos, mas podemos nos alegrar porque o espinho tem rosas…”
Errado é não aprender com os próprios erros. Certo é aprender com os próprios erros. Certíssimo é aprender com os erros dos outros.
A Bioética da Beira do leito entende que as boas práticas dependem da mais harmoniosa integração do Pentágono dos cuidados com a saúde (Quadro). Facilita corrigir antes do equívoco concretizado. Faculta reparar ainda no “rascunho mental”.
Vale lembrar que assim como a Natureza tem as gigantescas diversidades da Floresta, do Deserto e dos Polos Gelados, todos com formas de vida, a beira do leito também é plural. Há o paciente sonho de livro, há o paciente hipocondríaco. Há o médico super pós-graduado, há o médico recém-graduado numa Escola com infra-estrutura de papel. Há a Medicina das Evidências, há a Medicina do Achismo. Há a Instituição de Saúde referência, há a Instituição de Saúde ambivalência. Há o Sistema de saúde focado na universalidade, há o Sistema de Saúde focado na mensalidade.
As combinações sustentam o seguinte Penta decálogo sobre a concepção que a arte de viver passa pela ciência da saúde:
- Ciência tem evidências. Ética tem justificativas coerentes.
- Ser médico só pode ser compreendido olhando para trás, mas só pode acontecer olhando para a frente.
- A beira do leito revalida constantemente o diploma do médico.
- O bom médico já começa a tratar o paciente quando presta atenção na anamnese.
- Se o exame de imagem está atrapalhando, experimente fazer o exame físico.
- Uma sempre certeza arrisca-se ao erro. Sempre.
- O médico que bem ensina, ensina o aluno a duvidar do que está aprendendo.
- Quebre o segredo da doença do paciente, nunca quebre o sigilo profissional sobre o paciente.
- Direcione o foco da atenção para o bem do paciente, desfoque dos bens do paciente.
- Saber discorrer 3 minutos sobre um tema não significa sentir-se conhecedor a ponto de sustentar prescrições.
- Um exagerado foco em estatística pode não combinar com a individualidade do caso.
- Um predomínio da gestão hospitalar pode resultar em carência de leitos para gravidades.
- Paciente mal intencionado faz de cada solução um problema ético.
- Todo paciente deseja ter o médico ao seu lado, mas nem todo paciente deseja estar ao lado do médico.
- Há familiar que pretende o paciente um boneco de ventríloquo para se expressar com viés manipulador.
Seja feliz!
Uma resposta
Sensacional ,peço permissão para repassar para todos ,Médicos e pacientes .Um precioso tesouro , lições do passado ,bastão para a nossa e próxima geração de Médicos
Abc
TR